Quem seriam os jovens? Que espírito é esse? Quando olho pra vida, com olhar pragmático; sempre enxergo na juventude um momento de hiato, um descontínuo. A vida poderia ser descrita em termos de duração: nascimento, desabrochar, morte. No desabrochar, no desenvolvimento, descobrimos o eu, e este eu se coloca, se insere na história; ele é sempre menor que o mundo, sempre sucumbe a realidade, sempre se retrai e se constrange; a força magnética da vida perpassa cada um de nós numa espécie de circular da servidão. Nascemos com apenas um propósito, o propósito de servir à continuidade do eterno, uma mesma substância que não se relaciona com o tempo. As dimensões se referem às partículas, às unidades que compõem o todo, mas este não obedece qualquer dimensão, para ele o vocabulário escapa. Na vida, como única substância, não existe tempo ou espaço; e sem estas variantes seria ilusório pensarmos em termos de liberdade.
Não há liberdade, apenas servidão; e cada um de nós, como partícula dessa substância una, aderimos ao todo sem que seja possível transcendê-lo. Se tudo é imanência, e se na imanência não há liberdade, como poderíamos ser livres?
Talvez de uma única forma, seríamos livres no pensamento, no espírito. E é exatamente na juventude, neste descontínuo, que o eu se subverte ao impossível. Os jovens não aceitam a servidão, geralmente enxergam o todo com as lentes de um narcisismo individualizante. Pensam a liberdade como força que resiste à vida, pensam nas escolhas, em encontros e desencontros, em possibilidades; se desconectam da substância, sem perceber que esta desconexão é parte motora do processo de aprisionamento. "A rota oferece vários caminhos e nenhum deles me sugam ao destino que fui predestinado". Seria este o pensamento mais genuíno e belo deste espírito que acredita em ilusões. É este o espírito jovem, é esta a estética que dá um pouquinho de alento para que cada um de nós consiga suportar o perecimento da matéria e o vindouro silêncio mineral. É uma ilusão que se adere à substância, um regojizo amordecedor, um grito de liberdade no vácuo absoluto.
Então este espírito seria um suspiro no meio do torvelinho deletério da própria existência? Seria uma nódoa de criação para todos nós que vivemos em cativeiro? Certamente não. Este espírito decompõe a vida, é um veneno, um desvio que pulsa entre os extremos da sensibilidade. A vida é nascimento, desabrochar e morte. Quanto mais negamos esta unidade, mais exíguo é o nosso tempo, mais próximos estaremos do silêncio absoluto, mais ressentidos e acovardados, mais inermes, servis, dispensáveis. Então temos que aceitar a vida? Precisamos de resignação?
Amor Fati, responderíamos. Não podemos negar a vida; e a vida, entre nascimento, desabrochar e morte, comporta todos os desvios. Negar a unidade da substância que nos circunda, clamando por liberdade, é negar a vida; no mesmo sentido, lutar contra os desvios, sufocar o espírito jovem que se manifesta em cada um de nós, também é negar a vida.
Não existe liberdade, apenas servidão. Lutar contra o aprisionamento, lutar contra a imanência é negar a vida. E de todas as partículas que compõem a substância, somos a única que sofre; e sofremos por negação.
E afinal, por que o espírito jovem é um problema? Por que ele interfere nas minhas composições, no contínuo? Acho que ainda não aprendi a integrar este desvio com a unidade. Estou sempre flertando com aquilo que transcende a substância, com o irreal, o ilusório. Nego a vida e sofro.
Unidade e desvio formam um pêndulo que se move sem atritos, sua velocidade é constante. Para aqueles que vivem plenamente, para aqueles que nunca negam a vida - e talvez estes não existam - o movimento pendular orquestra a dinâmica das transformações com a estática da substância. Se não há atrito, tampouco aceleração; este movimento que poderia gerar dor, não incomoda; já que por ser constante, ele, a depender do referencial, não é movimento; ou seja, quando não negamos a vida, quando estamos integrados a substância, nos movemos dentro da estática, dentro da imanência, nos compassos e matizes do todo. Repetimos: amor fati.
FG
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