Devo advertir os leitores que minha
narrativa possui elementos fantásticos, surreais e implausíveis, no
entanto cada pedacinho deste enredo aconteceu em sua literalidade
metafórica. Mesmo não sabendo se minhas palavras ou personagens
seduzirão meus interlocutores, escrevo; tenho a liberdade e a baixa
autoestima necessária para utilizar esta ferramenta chula de
comunicação indireta. Espero que o vernáculo me ajude a encontrar
clareza nos vindouros esclarecimentos.
Ontem, encolhido na cama, contava os
minutos, horas, dias. Duas semanas após meu desastre juvenil, não
tinha forças para seguir em frente; triste, aguardava apoplético
uma chance de mudar fatos aparentemente imutáveis. Neste suposto
estado de letargia, má alimentação, ócio improdutivo, angústia e
medo fui surpreendido com a campainha do meu apartamento; aquele
tilintar sonoro desagradável feriu meus ouvidos e a força da
insistência me fez deixar a cama. Atendi a porta. Um homem
aparentando 50 anos estava a minha frente, ele era no mínimo
estranho. Calvo de pele muito clara, assemelhava-se ao filósofo
francês Foucault; vestia uma roupa escura sem bordados, desenhos ou
qualquer tipo de detalhamento. Quando me viu esboçou um largo
sorriso repulsivo, me provocando instantaneamente um mal-estar
lancinante. Aturdido perguntei: “Quem é?” Eis que o homem
apertou a barriga, flexionou os joelhos e vagarosamente balbuciou:
“Eu sou o Facebook”. Sem saber a razão enrubesci as maças do
rosto, fechei os olhos e finalmente voltei a falar: “Facebook? O
que deseja em minha casa?” “Apenas conversar”. Ele entrou,
refestelou-se ao sofá e esperou em silêncio enquanto eu preparava
um café. Servidos, iniciamos um longo colóquio; ele tinha uma
proposta, incutia-me a aceitá-la com ideias imorais.
- Posso chamá-lo de Miguel? -
perguntou o homem.
- É claro, é este o meu nome –
respondi assustado, encarando seus olhos irônicos.
- Bem Miguel, tenho uma proposta, mas
antes devo reavivar sua memória sobre os fatos hilários do seu
penúltimo fim de semana – o homem então piscou os olhos, sorriu,
levantou-se do sofá, segurou a barriga e voltou a flexionar os
joelhos; gargalhando, continuou - vou contar três versões distintas
dos incidentes; ouça com atenção e evite interrupções – neste
momento o estranho intitulado Facebook iniciou seu extenso relato.
Para facilitar a compreensão dos
leitores irei separar as versões em três narrativas curtas. É
claro que o homem, enquanto falava, interrompeu frases e raciocínios,
mudou a entonação de voz, fez longas pausas. Eu também não fui
totalmente indiferente as suas palavras, me exaltei algumas vezes,
tentando explicar situações ou simplesmente protestando contra
fatos vexatórios. No entanto considero esta exposição a melhor
forma de deixar claro os pontos importantes para sedimentar meu
infortúnio.
FG
PS: esta é a primeira parte de um provável texto longo. Vou aproveitar o ócio para gastar um tempinho do meu dia escrevendo. Vamos ver o que irá desabrochar desta insanidade. Amanhã ou talvez nunca voltarei ao blog. XD
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