Como prometido, retorno ao blog para continuar minha extensa e árdua tarefa de postar 50 grandes filmes da década passada. Apesar de repentina, a ideia de dividir a lista foi ótima, com poucos minutos consigo escrever textinhos, tecendo comentários aleatórios sobre peculiaridades, afáveis ou não, das respectivas obras; além de tudo, garanto um maior volume de acessos ao blog, pois, inevitavelmente, o número de visitantes está diretamente relacionado às atualizações. Nesta segunda parte, dois dos filmes listados são bastante populares; acredito que a grande maioria já teve a oportunidade de assisti-los; aliás, devo confessar que, quando classificava as obras, muitas foram deixadas de lado em detrimento de outras mais conhecidas; Os Outros, Guerra dos Mundos, O Senhor dos Anéis, e algumas películas que serão reveladas em um futuro próximo ficaram, no corte inicial, em posições insuficientes, no entanto, para popularizar meu ranking, substitui alguns filmes obscuros do cinema asiático e europeu pelas obras supramencionadas. Devo advertir, contudo, que meus procedimentos não tiram a autenticidade da minha lista, pelo contrário, só reafirmam a impossibilidade de estabelecer parâmetros precisos de avaliação; afinal, a diferença de qualidade entre os filmes é tão pequena que o alocamento das posições, à exceção dos primeiros lugares, seguiu critérios incertos, fortuitos, quase irracionais.
47. Os Outros - Alejandro Amenábar - 2001
Com a ressurreição dos fantasmas no cinema proporcionada pelo ótimo Sexto Sentido de M. Night Shyamalan na década de 90, carecíamos, ainda, de um autêntico filme que restaurasse a temática das casas assombradas; farto nos anos 80, o gênero, que tem como obra suprema O Iluminado de Stanley Kubrick, foi perdendo o fôlego; mas a bela Nicole Kidman, em parceria com o talentoso diretor espanhol, conseguiu seduzir, mesmo morta, novos espectadores. Não interessa se o filme peca em originalidade, tampouco se a história é facilmente presumível ainda em seus minutos iniciais; a atmosfera criada por Amenábar compensa a suposta fragilidade do roteiro; ambientes escuros, personagens sombrios e o ritmo adequado dão ao filme toques requintados de sofisticação. Talvez Os Outros não seja uma obra de arte, mas seu melindre e apreço formal o aproxima desta nobre alcunha, provando que nem sempre o apelo comercial deslegitima uma experiência cinematográfica.
46. Guerra dos Mundos - Steven Spielberg - 2005
A alguns anos atrás, confesso, torcia o nariz para blockbuster americanos. Quando descobri Fellini, Bergman, Godard, Buñel e Antonioni cinema para mim passou a ser sinônimo de reflexão; todas as horas de entretenimento em frente à tela grande ou refestelado no sofá da sala foram surrupiadas da minha mente. Explosões, assassinatos, perseguições, avalanches, naves espaciais, terremotos, tornados, poderes especiais, criaturas mutantes, fantasias juvenis e tantas outras expressões que caracterizavam meu deleite descerebrado foram, sub-repticiamente, jogadas ao lixo e substituídas unicamente por dramas existenciais, teses sociológicas, provocações políticas. De uma hora pra outra o cinema deixou de ser diversão pra se tornar aprendizagem, eu, bastante ingênuo e imaturo, ainda não havia percebido que os filmes são obras de arte, e que nem sempre é necessário abordagens "sérias" para alçá-los a este panteão; já comentei, em uma postagem recente, a visão de Oscar Wilde sobre a nobre atividade; para produzi-la, dizia o poeta inglês, é necessário admirar a sua inutilidade. Quando me voltei para o cinema de autor, e encontrei as pérolas trashs do cinema italiano, passei a avaliar com outros olhos os planos, os enquadramentos, as cores, a narrativa, a sequência, os movimentos, a magia e toda a estrutura formal que compõe a película; percebi que o conteúdo nunca substitui a forma, mas o contrário às vezes pode acontecer. Guerra dos Mundos entrou na lista porque é cinema com C maiúsculo, diversão concentrada na mais apurada técnica artística. Apenas para corroborar meus dizeres, peço aos meus leitores para assistirem a cena em que Tom Cruise, Dakota Fanning e Tim Robbins estão escondidos no porão de uma isolada mansarda, o que me dizem? É ou não de arrepiar?
45. Enter The Void - Gaspar Noé - 2009
A inventividade do diretor franco argentino já era conhecida e admirada desde o perturbador Irreversível, com Enter The Void, Gaspar Noé inseriu seu nome no seleto grupo de cineastas praticantes de um cinema vanguardista, apegado a um extremo subjetivismo e voltado unicamente em provocar múltiplas sensações. Cheio de cores, alucinações, dissonâncias sonoras, defeitos óticos, e imperfeições visuais o filme inova ao fazer da própria câmera o protagonista da história; o personagem principal, cuja imagem é mostrada apenas em um efêmero reflexo de espelho, conduz nossos olhos por toda a mise-en-scène; nós caminhamos, dormimos, e viajamos com ele. Com um final épico, perfeitamente adaptável à estética proposta, Enter The Void merece, além do já conquistado status cult, nosso mais recrudescente e verdadeiro apreço.
FG
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