Eu deveria, para manter a coerência temática, ter utilizado o outro blog para postar uma nova lista de filmes. O já esquecido Disfonia Visual provavelmente está com seus dias contados, abatido e sem forças para vencer a apoplexia e o ostracismo, o mais digno é enterrá-lo com as honras de um recém nascido que pouco experimentou em vida. Longe de ser popular, o "Oblações" possui poucas dezenas de acessos diários, a maior parte fruto de pesquisas no google, que, no entanto, são suficientes para reavivar meu ânimo.
Escrever sobre a arte, literatura, pensamentos diversos, sensações momentâneas, preferências, desejos, acontecimentos ou até sobre o nada que no meu íntimo pode ser tudo, tem sido o propósito deste blog. Nunca me preocupei em ser ouvido, tampouco respeitado ou entendido por todas as bobagens já publicadas; queria e ainda quero, como qualquer um, existir; faço isso dizendo pra mim mesmo o que gosto, sinto, observo, vivencio. Se alguém, neste mundão sem fim, se identificar com algo, algum texto, lista ou crítica a minha sensação de estar existindo certamente se amplificará, ganhará contornos, qualidades; mas, no fundo, não são os incentivos ou os aplausos que preenchem o meu vazio existencial, eles podem apenas me alegrar, fomentar o meu ego, tornar o meu dia mais feliz. Ao contrário, a incapacidade de produzir, as frustrações, as paixões inexpugnáveis, as pessoas perdidas, a dor e os fracassos gritam, em meu ouvidos, quem eu sou. Todos sabem que o sofrimento nunca engana, ele às vezes turva a mente, obnubila os pensamento, mas jamais conta uma mentira; apenas na dor é possível compreender a existência, pois sofrer sem adjetivações sempre será uma experiência transformadora.
Feita, como de costume, a digressão, vamos ao que interessa. Esta postagem terá várias partes, todos os dias retornarei ao blog para publicar continuações, que, além de um textinho introdutório, possuirá alguns filmes; provavelmente, dependendo do meu humor, entre três e cinco. Trata-se, à obviedade do título, de uma lista com as melhores obras cinematográficas da década passada.
No processo classificatório, já concluído, considerei apenas as obras lançadas entre 2000 e 2009.
50. O Aticristo - Lars Von Trier - 2009
Um filme dedicado ao grande cineasta
russo Andrei Tarkovsky não poderia ser de fácil degustação; com
muitas metáforas visuais e analogias bíblicas, O Anticristo,
antes de ser uma obra aberta, é um experimento cinematográfico que
trabalha com opostos; o homem e a mulher, o sagrado e o profano, o
corpo e a alma, o prazer e a castidade, a liberdade e a alienação.
Polêmico, o filme consegue incutir nos expectadores sensações
interpretativas diversas; para muitos a obra é reacionária e
emoldurada sobre preconceitos sexistas, para tantos outros, e eu me
incluo entre eles, visionária e original. Tirando alguns exageros
formais e algumas falhas na narrativa, Lars von Trier, sem ceder a
conservadorismos estéticos, disponibiliza ao público duas horas de
reflexão e muito mal-estar visual. Para as mentes saudáveis, um
ótimo filme que não oferece nenhuma diversão.
49. A Espiã - Paul Verhoeven - 2006
Conhecido pelos excelentes filmes
hollywoodianos - Robocop, O Vingador do Futuro e Instinto Selvagem -
Paul Verhoeven, em A Espiã, retorna, em grande estilo, ao seu país de origem. Ambientado na Holanda ocupada pelos nazistas, o filme conta a
história da judia Rachel Stain, da traumática perda de seus
familiares à redenção vingativa potencializada pela sua
participação nas operações de resistência que expulsaram os
alemães do território holandês. Apesar de não ter o humor doentio
e sardônico do inigualável Bastardos Inglórios, é inevitável
traçar um paralelo entre as duas obras; ambas visualmente ousadas e
conduzidas por mestres da narrativa cinematográfica. O mote da
vingança, transformada por Tarantino em um portentoso delírio
ficcional da mais genuína criatividade, é exposto, nesta obra, com
um maior apego aos fatos históricos; mesmo amoldado à realidade, o
filme não é um relato documental, pelo contrário, muita ação e
suspense ornamentam esta divertida e pujante película do cinema
europeu.
48. O Senhor dos Anéis - As Duas Torres - Peter Jackson - 2002
Ao contrário da maioria, o meu filme
favorito da série O Senhor dos Anéis é este aqui. Peter Jackson,
em minha modesta opinião, conseguiu, nesta segunda parte, filmar com
mais precisão e habilidade; as cenas da batalha do Abismo de Helm
são fantásticas, bem orquestradas e coreografadas com perfeição.
Foi também neste filme que os personagens do anão e do elfo
adquiriram, pelo menos aos meus olhos, maior empatia e carisma, e
além de tudo as arriscadas, prolongadas porém certeiras sequências
com as árvores falantes só comprovam a qualidade do entretenimento
proporcionado por esta inefável adaptação do romance de Tolkien. Depois de Spielberg, coube ao gordinho neozelandês
reinventar o cinema de aventura; sem poupar dinheiro e efeitos
visuais, Jackson honrou seu passado de arquiteto do cinema trash, com
um blockbuster empolgante.
FG
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