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Mostrando postagens de 2013

FIM

Volto ao blog para me despedir. Depois de um ano sinto que é hora de sepultar este diário pessoal. Agradeço aos leitores que por ventura passaram um tempinho lendo meus textos, principalmente àqueles que me incentivaram a continuar escrevendo. Nunca pensei em divulgar minhas ideias, lamúrias, ironias e futilidades ao público; a pouco tempo atrás eu seria o primeiro a gargalhar se alguém desnudasse o futuro mostrando-me alguns dos meus textos. Nunca racionalizei minhas emoções e até “ ontem” sequer imaginava ser um sujeito tão emotivo. Confesso que sempre exagerei e, na maior parte das vezes, escrevi com um sorriso cáustico no rosto; mas, infelizmente, não posso mentir, fiz desse blog um confessionário e nenhum texto foi escrito sem alguma motivação sentimental. De metáfora em metáfora me eximi de qualquer responsabilidade ou peso, fingi dizer tudo sem precisar dizer nada, me omiti da realidade construindo um espaço de libertação. Quando, ao criar esta página virtual, assumi

Don't Worry, I Killed the Facebook (part.VIII)

antes de iniciar a leitura, acesse a sétima parte - Nunca estive melhor. – Sem olhar para moça, Gabriel deleitou-se com um prolongado trago da bebida. - Seus olhos estão inchados, e sua camisa está suja de sangue! - Exclamou assustada, não compreendendo a indiferença do rapaz. – Tem certeza que não precisa de ajuda? - Agradeço sua amabilidade, mas, se não puder oferecer uma boa conversa, é melhor me deixar sozinho. Gostaria de me concentrar na sonoridade agradável do ambiente, esta música converteu em bem-estar emocional minha dor física. – Transformando a arrogância em gentileza, continuou – aliás, confesso, nunca pensei que um bandolim e os dedos de uma instrumentista far-me-iam enxergar poesia em ondas sonoras. -... - Exitante, não sabia como continuar a conversa; as feridas do rapaz, sua aparente embriaguez e principalmente o jeito empolado em se expressar assustaram a jovem. No entanto, por alguma razão, sentiu uma estranha atração por Gabriel; esqueceu as circuns

Don't Worry, I Killed the Facebook (part.VII)

antes de iniciar a leitura, acesse a sexta parte Não quero acelerar minha narrativa, mesmo tendo pressa, preciso ser muito cuidadoso com a exposição de suas ideias. Por quê o espanto? Não me diga que nunca soube o óbvio? Acredita mesmo no poder criativo de minhas palavras? Tudo que digo é seu, todas as reações de meu rosto são suas; a ironia, a comiseração, o desazo, tudo, absolutamente tudo lhe pertence. Não acredito que nunca soube que minhas frases são simples ressonâncias de seus pensamentos. Se não me julgas original é porque não acredita no próprio talento. Mas fique tranquilo, você não está louco, eu sou real, sempre existi e sempre aguardei com parcimônia cognitiva o nosso encontro. Não quero confundi-lo, muito menos assustá-lo. Quando digo que tudo lhe pertence estou sendo literal; nada existe fora de seus pensamentos; nenhuma emoção, dor, alegria, angústia, nenhum medo, trauma, júbilo fogem ao seu alcance, todos estes sentimentos são internos e correspondem às suas

Don't Worry, I Killed the Facebook (part.VI)

antes de iniciar a leitura, acesse a quinta parte A chocarrice verbal converteu, em chamas, o suave sorriso de Malu. Sua pele, pálida e fria, atingiu contornos cálidos de vermelhidão; seu rosto, exsudando em fúria, em poucos segundos se adaptava ao ódio; e seu olhos, vermelho sangue, agonizavam ignóbeis pensamentos. Nunca se sentira tão humilhada, mal tratada, escorchada, vilipendiada; Gabriel, sem saber, estava despertando um caráter assassino. A sua inocente brincadeira seria, em poucos instantes, desagradável para ele, no entanto outras consequências, mais graves, se desencadeariam do parvo recado. Mas, novamente repito, não devo me antecipar; cada fato deve esperar a hora certa para receber homenagens. Mesmo sem estar presente, você deve imaginar os desdobramentos vindouros. Certamente Gabriel, no dia seguinte, te contou suas peripécias; mas ele não foi totalmente verdadeiro. Não estou chamando seu amigo de mentiroso, mas convenhamos, ninguém assumi espontaneamente

Don't Worry, I Killed the Facebook (part.V)

antes de iniciar a leitura, acesse a quarta parte Devo confessar, caro Miguel; de toda a minha vasta narrativa esta é a parte que mais gosto. Whisky e poemas: não há melhor nem mais etérea combinação. Aquele dia Gabriel ficou sozinho no bar; foi responsável por momentos de inopinados desazos emocionais. Como eu me diverti quando, mais tarde, soube do ocorrido. Até admito que hoje preferiria estar ao lado não de você, mas de seu interessantíssimo amigo. Aliás, se não fosse por Sofia, sua história não teria a pujança necessária para me trazer a sua casa. Venho até aqui por dois motivos, o primeiro e mais importante você saberá em breve, o segundo envolve sua desconhecida amada. Mesmo eu, vasto em conhecimento, onisciente e insuperável, não consigo compreender sua obsessão por Sofia. Vocês trocaram algumas frases e nada mais. Diga-me Miguel, foram apenas os olhos verdes? Você não pode ser tão vulgar para se deixar seduzir por um mero olhar? Existe alguma metafísica inexplicável

Don't Worry, I Killed the Facebook (part.IV)

antes de iniciar a leitura, acesse a terceira parte Por favor Miguel, não me interrompa, sempre fui um amante da performance, e se conto tais fatos com tamanha paixão e porque me sinto diante de uma imensa plateia. Talvez você seja meu único ouvinte, mas gosto de imaginar a ilusão de ser um ídolo reverenciado e observado. Minto, digo apenas bobagens, esqueça minhas palavras; não há possibilidade de confranger meu espírito demonstrando falsas fraquezas; lembre-se: eu sou o novo Deus do terceiro milênio. Eu sei o que as pessoas pensam. Eu sei o que as pessoas gostam. Eu sei o que pessoas fazem. Eu sei o que as pessoas sentem. Eu sei tudo e posso, caso deseje, lhe fornecer este poder. Não quero exortá-lo, tampouco pretendo corrompê-lo, mas pense nas vantagens, em seus amores. Acalme-se, o achincalhe não me afeta. Volte ao seu lugar, preciso continuar minha narrativa. Falávamos sobre a infância de Gabriel. Havia prometido revelar o primeiro porre do seu amigo. Pois bem,

Don't Worry, I Killed the Facebook (part.III)

antes de iniciar a leitura, acesse a segunda parte Antes de prosseguirmos é necessário um parêntese. Você (deixemos a impessoalidade de lado, afinal este discurso é apenas uma conversa) não se recorda dos eventos que irei narrar. Quando eles aconteceram estavas entretido com a garota russa, falando indiretamente sobre orgulho e paixão. Acontece que seu fiel e inseparável amigo Gabriel decidiu ficar sozinho no bar; foram 7 doses de whisky, 7 poemas e 7 cantadas que seduziriam qualquer personagem, moralista ou não, do universo Boccacciano. A predileção do seu amigo pela bebida escocesa perfaz longa data. Desde menino Gabriel detestava a sobriedade, seu primeiro porre aconteceu durante uma extensa aula de ensino religioso. Naquele tempo era comum professoras inexpressivas lerem copiosamente as escrituras sagradas. Sem capacidade oratória, charme vocal ou sutileza argumentativa estas escravas da ignorância traziam de baixo dos braços volumosos exemplares do antigo testamento

Don't Worry, I Killed the Facebook (part.II)

Antes de iniciar a leitura, acesse a primeira parte Versão 01: Como Eu Desejava (Ao lado de Deus) Que visão maravilhosa, um deleite aos sentidos, uma inesquecível ode ao bom gosto artístico. Não seria esta a melhor forma de iniciar tão reconfortantes lembranças, caro rapaz? Você e seus amigos representam uma nova esperança, o renascimento do espírito engajado pela e para a poesia. Como é bom saber que a juventude, mesmo dentro de um oásis de futilidade, ainda possui o espírito nobre e belo dos grandes artistas. Recorda-se daquele sábado, neste mesmo apartamento? Quatro jovens discutindo, recitando, sonhando com os versos de Byron, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Pessoa, Maiakovski e tantos outros poetas inigualáveis, só poderiam representar um delicado bálsamo sonoro. Você cantava com aristocrática leveza, parecia exalar sílabas divinas. Um dos últimos versos desenhados por suas belas cordas vocais, foram os sombrios versos românticos do príncipe inglês: It is

Don't Worry, I Killed the Facebook (part.I)

Devo advertir os leitores que minha narrativa possui elementos fantásticos, surreais e implausíveis, no entanto cada pedacinho deste enredo aconteceu em sua literalidade metafórica. Mesmo não sabendo se minhas palavras ou personagens seduzirão meus interlocutores, escrevo; tenho a liberdade e a baixa autoestima necessária para utilizar esta ferramenta chula de comunicação indireta. Espero que o vernáculo me ajude a encontrar clareza nos vindouros esclarecimentos. Ontem, encolhido na cama, contava os minutos, horas, dias. Duas semanas após meu desastre juvenil, não tinha forças para seguir em frente; triste, aguardava apoplético uma chance de mudar fatos aparentemente imutáveis. Neste suposto estado de letargia, má alimentação, ócio improdutivo, angústia e medo fui surpreendido com a campainha do meu apartamento; aquele tilintar sonoro desagradável feriu meus ouvidos e a força da insistência me fez deixar a cama. Atendi a porta. Um homem aparentando 50 anos estava a minha fre

O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

Semana passada fui, ao ler o clássico de Oscar Wilde, presenteado por bons momentos de inutilidade artística. A linguagem formalmente aveludada, sem grandes obstáculos que dificultam a caminhada sobre a superfície da estória, facilita e impulsiona a leitura do romance. A companhia das palavras do escritor irlandês é agradabilíssima; tudo, até mesmo sentenças abjetas deglutidas por alguns personagens, é suntuoso, encantador, charmoso, elegante, irresistível e nobre. Por alguns momentos sentimos vontade de participar daqueles colóquios, encontros e festas, temos, não raras vezes, necessidade de ouvir, tocar, abraçar quase todos os pedacinhos magistrais do delicioso, imoral e irônico enredo. Nunca irei me esquecer da elegância e do cinismo de Lorde Henry; ele é o típico personagem que, de tanto odiar, amamos. Durante a leitura fui grifando as melhores partes do romance, aquelas que me faziam congelar o espírito com risadas ou assombro; ao final, todas as linhas humilhadas pela pont

Ferreira Gullar em Dois Atos

Traduzir-se Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte? Mar Intacto Impossível é não odiar estas manhãs sem teto e as valsas que banalizam a morte. Tudo que fácil se dá quer negar-nos. Teme o ludíbrio das corolas. Na orquídea busca a orquídea que não é apenas o fátuo cintilar das pétalas: busca a móvel orquídea: ela caminha em si, é contínuo negar-se no seu fogo, seu arder é deslizar. Vê o céu. Mais que azul, ele é o nosso sucessivo morrer. Ácido céu. Tudo se retrai, e o teu amor oferta um disfarce de si. Tudo odeia se dar. Conheces a água? ou apenas o som do que ela finge? Não te aconselho o amor. O amor é fácil e triste

Melhores Filmes da Década de 00 - Retratação

É preciso estar triste pra escrever, ou, no mínimo, ter alguma motivação. Esta, ao conjugar sensações em raciocínio, nos tenciona a fantasiar uma realidade que nunca se materializa em sonho. Sonhar é um estágio profundo e interior do sentir, só sonhamos com aquilo que modifica nossa maneira de nos relacionar com o mundo; a fantasia, herdeira do pensamento, ao revés, aglutina certezas em volta de ideias abstratas privadas de significado. Não! Por favor, acreditem; não perdi a razão, tampouco lucubro falsas verdades para confundir possíveis leitores. As bobagens deglutidas neste papel eletrônico são nebulosas, porque não consigo me desvincular dos meus sentidos; sou prisioneiro da sensibilidade, e, por mais que eu insista em afirmar o contrário, meus olhos, ouvidos, paladar, olfato, e minha pele são ignóbeis ditadores, alheios a justiça e carentes de bondade; diante deles meus pensamentos, raciocínios, não ultrapassam a condição enxovalhada e miserável dos andarilhos. Vivo para e pelo

À Procura de Ideais Desconhecidos

Hoje, em Juiz de Fora, voltaremos às ruas para novamente chamar a atenção. Segunda-feira milhares caminharam da praça São Mateus até o centro da cidade. Meus companheiros etários, felizes em participar de algo novo, naquele dia, tentaram manter a seriedade, disfarçaram o júbilo, e esconderam a satisfação. Eles estavam protestando e, portanto, era necessário assumir um esgar indignado. Não participei da caminhada, pois já na concentração me senti acossado por tristes e contraditórios pensamentos, sabia da importância simbólica daquele ato, mas tive medo, e ainda tenho, de ser apenas mais um convidado de uma camuflada orgia manipulativa. É estranho perceber que no meio de tantos que se dizem enxovalhados por uma realidade perversa, não haver nenhum reflexo sincero de humilhação; estavam todos felizes, sorridentes. Tudo bem, este sentimento é natural, pela primeira vez estávamos abraçando à cidadania. Aquele foi nosso primeiro e mais robusto protesto, mesmo assim me senti uma peça d