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O Apanhador no Campo de Centeio - J. D. Salinger




Existem algumas obras que permanecem por muito tempo no imaginário popular, este é o caso do Apanhador no Campo de Centeio. O livro, escrito no final dos anos quarenta, em linguagem extremamente coloquial, narra a estória de Holden Caulfield, adolescente de 17 anos que, ao ser expulso do colégio, vaga pelas ruas e bares de Nova Iorque pelo simples receio de dar a notícia aos seus pais. Talvez o sucesso da obra seja oriundo de sua acessibilidade textual e das situações descritas, com conotações sexuais e nada aristocráticas; há, inclusive, uma enxurrada de palavrões grafados ao longo das páginas do romance; e em momento algum temos a sensação de estar lendo um texto literário, mas a transcrição de uma conversa, uma confissão ou uma entrevista. Narrado em primeira pessoa, acompanhamos em detalhes as confusas reflexões do personagem principal, que parece não sentir prazer com nada; todos para ele, com exceção dos irmãos, são pulhas insuportáveis, imbecis desprezíveis incapazes de racionalizar pensamentos úteis ou algo que o valha*; Holden, apesar da tenra idade, não vê perspectivas na vida, não sabe o quê fazer; possui mil ideias, mas a cada novo segundo redireciona seus objetivos, podemos dizer que o rapaz é um digno exemplar da juventude niilista. Refletir sobre este aspecto da obra certamente será meu único viés possível para encarar de maneira menos amorfa meu texto, no entanto, com apenas esta artéria textual desobstruída, meu cansaço e prostração impedem qualquer esforço mental; não há motivos para me desgastar analisando um romance parvamente escrito.

Não quero que meus escassos leitores percam em demasia seu tempo lendo uma resenha preguiçosa e sem sabor (por mais que eu me esforce meu comentário não será nada profícuo), dessarte, encurtarei minhas observações e tentarei ser conciso. Meu primeiro conselho: se você não estiver na pré adolescência evite este livro, ele não ti acrescentará nada, aliás, deveríamos ser advertidos, de alguma forma, que a obra é destinada para um público infanto juvenil; muitas pessoas possuem a estranha mania de persistir até o fim na leitura de qualquer romance, eu, inclusive, venho, aos poucos, adquirindo esta peculiar característica. Não se iludam, como eu, com o título da obra, não trata-se de um clássico da literatura, o livro é apenas um best-seller dos anos quarenta que por motivos incompreensíveis ainda povoa o imaginário popular. Ouvi dizer que o assassino de John Lennon era fã de Salinger, e quando foi preso estava lendo um exemplar do Apanhador no Campo de Centeio, este pode ser um dos motivos que criaram esta aura transgressora ao redor da obra; acreditem, o livro é bem bobinho. Provavelmente, para a sociedade conservadora americana pós segunda guerra, o romance, quando lançado, poderia ter sua relevância em um plano de provocação comportamental, em sua estrutura de linguagem chula e agressiva e principalmente em sua abordagem incisiva sobre aspectos da vida sexual dos personagens, no entanto, todo o suposto avanço alcançado pelo livro é assaz insípido; ousaria em dizer que a obra envelheceu, perdeu sua importância e seu valor artístico. Na verdade não podemos chamar de arte algo que envelhece; ao observar este fenômeno em algum produto do universo cultural, estamos desmascarando um exemplar de mero entretenimento que outrora se camuflava ao lado de seus parentes mais nobres. Deixo registrado nesta resenha, sem medo do ridículo, meu desprezo pela obra; e para quem insistir na leitura, desejo coragem para suportar a dor e o enfado**.    

Avaliação: 2,5/10
FG

Obs: * O narrador usa esta expressão trocentas vezes.
** Estou brincando, até que é possível se distrair lendo o livro.

Comentários

  1. Gostaria de saber qual é o sentido desse título.

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    1. Como o Bernardo me chamou de brother, lhe chamarei de sister, ok?
      O título faz referência a um singelo desejo do personagem principal. Holden, na metade do romance, comenta que seria feliz se vivesse recolhendo as crianças que se aventuravam em brincadeiras perigosas nos campos de centeio. Tudo não passa de uma grande metáfora, pois, ao se perder nos campos de centeio, os pequeninos se extraviariam da vida, transformando-se em adultos. Holden, então, teria o nobre papel de guardião da inocência infantil, evitando que as crianças crescessem e perdessem sua humanidade; os adultos, para nosso herói, não passavam de perversos hipócritas.
      Deu para esclarecer, sister?

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  2. AAAAAAAA... brother, entendi. Parar no tempo e ser eternamente criança!! Realmente, a infância deixa recordações de pureza e alegria. Dizem que a maturidade também é muito boa,acho que estamos passando pela fase mais turbulenta, né? Há quem diz que se começa a vida depois dos 40... rsrsrsr...

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    1. Acho que o presente sempre é mais turbulento, independente da idade; pois as lembranças do passado são nostálgicas (esquecemos as dores), e o futuro esperançoso.

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