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A Vida Assim Nos Afeiçoa - Manuel Bandeira




Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o grande bem.
Libertadora, apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - Vem!

Quer para a bem-aventurança
Leves de um mundo espiritual
A minha essência, onde a esperança
Pôs o seu hálito vital;

Quer no mistério que te esconde,
Tu sejas, tão somente, o fim:
- Olvido, imperturbável, onde
"Não restará nada de mim!"

Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.

Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.

E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.

A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel...

(Poema retirado do livro  Melhores Poemas de Manuel Bandeira; seleção de Francisco de Assis Barbosa da Editora Global)  

Comentários

  1. Unknown3 de dezembro de 2012 às 18:32

    Que lindo poema! Assim é a vida... uma sucessão de altos e baixos. As metas traçadas, as obras que estão por vir, são o que nos impulsiona! " A vida assim nos afeiçoa". E o melhor do melhor é a certeza de que temos tanto a aprender da vida, tanto a viver, tanto a mudar de ideia, tanto a crescer, tanto a criar... que a vontade de viver é a vontade de experimentar cada pedaço da vida... e está sempre pulsando em cada um de nós.

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