Claro que a mulher sabia muito sobre ele. Os escritos em alemão, toda a cena pitoresca, os olhares. Eles já haviam se encontrado antes, era óbvio. Provavelmente o seguia, investigava cada passo. Com os dedos na maçaneta, Beto estava há segundos de aliviar a indecisão. Ela estaria do outro lado com todas as respostas. Iria oferecer ajuda. Aquele rosto era a antítese da perfídia. Porém, a aparência é amorfa, não nos diz nada sobre o bem ou sobre o mal. O bom, o belo e o justo não caminham de mãos dadas. A maior beleza preserva segredos intransponíveis, e seduz a astúcia ao ato mais cretino. Não, tudo isso era bobagem, deveria dar vazão ao impulso, esquecer os pensamentos, ignorar a memória, o vislumbre. Viver cada sequência temporal liberto da experiência, sem coragem ou covardia, sem elucubrações; apenas viver o orgânico, a matéria, o corpo físico; abrir a maçaneta e agir em função dos olhos, jamais do intelecto. Mas como enganar a própria fisiologia? As reflexões não apartam escol...