Sempre associei esta música com a morte, ela me traz tristes recordações de parentes queridos. Na minha cidade é tradição a igreja anunciar, a pedido dos familiares, o falecimento dos indivíduos. No alto do morro, ostentando um ar exagerado e imponente, aquela velha moradia de Deus insiste, semanalmente, em gritar a dor para alguns, e burilar, na atmosfera auditiva do restante, a sonoridade melancólica, desprezível e indiferente. Sempre quando Bach ressoa pelo lúgubre ar de Lima Duarte é sinal que uma alma está se despedindo, indo embora para encontrar novos lugares ou simplesmente para não encontrar lugar algum. Perdi meus avós e conheço a pungente sensação do afastamento, racionalizar a perda é difícil, exige um esforço incomum, pois como é possível entendê-la se ela é para sempre? Saber que não haverá volta dilacera todos os pensamentos, deixa a boca seca odiar a umidade, o estômago vazio repugnar qualquer insinuação de preenchimento, o cansaço clamar pela intensificação da fad...