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Carta à Mulher Amada




Não sei quais caminhos traçar ao lhe escrever esta sincera carta de amor; mas se pudesse expressar em palavras todos os meus sentimentos, me apaixonaria por cada centímetro deste papel; porque você está dentro de mim, em cada respirar, em cada pensamento, em cada transpiração e devaneio. Caso meu talento permitisse materializá-la em versos, seria um grande poeta, talvez o maior de todos, pois não há inspiração que se compare aos seus exuberantes olhos verdes, à sua pele alva e, sobretudo, ao seu sorriso de delicados e pequeninos dentes brancos; no entanto sou parvo, não domino a linguagem, e nunca conseguiria alcançar o menor laivo de sua inefável beleza. Você não merece palavras tão vulgares quanto as minhas; Fernando Pessoa, Drummond, ou o jovem Álvares de Azevedo talvez pudessem ter a honra de admirá-la em versos, mas eu, um pobre tolo, deveria, à semelhança do rei Édipo, arrancar meus olhos, caso ousasse contemplar o lirismo infinito que irradia de seu munificente âmago.

Hoje, antes de iniciar esta carta, deixei a cama; fiquei dois dias prostrado sem conseguir comer e nem falar. Estava sozinho, entregue aos meus solitários pensamentos. Tentei me esforçar, mas não consegui libertar minha imaginação da irracionalidade amorosa; em todas as direções que olhava você estava presente, eu conseguia sentir o cálido ar exalado por sua boca, o doce respirar de seus olhos, o bálsamo frondoso de seus cabelos; também ouvia sua pele sibilar aos meus ouvidos, e seus gestos perorar frases belas que se igualavam ao impossível. Nestes dois dias você me alimentou, cuidou de mim, desanuviou meus tormentos, extinguiu meus medos, e untou minhas cicatrizes com o fel dos seus múltiplos sorrisos; ao seu lado estava seguro, leve e com o raciocínio purificado. Temo ter ficado louco, entorpecido e viciado por sua presença imaginária; quando recobro os sentidos e percebo que estou sozinho, volto ao inferno existencial, meu estômago queima chamas de desconsolação, meu cérebro chora lágrimas de perversa epifania e meu coração tenta o suicídio, explode em mil pedaços para evitar a dor absoluta; mas quando volto a delirar, sinto novamente o aconchego de sua tenra presença, meu colchão fica macio, o ar morno e refrescante, todos parecem gostar de mim, e o mundo me convida novamente a cantar, fingir que vivo um delicioso musical, que danço, sapateio, me divirto ao som de canções alegres, coloridas e esperançosas. Portanto, neste instante devo escolher entre a normalidade do tormento e a loucura da felicidade, entre o impenetrável de seus olhos e a fábula de Vitor Hugo. Você não é uma simples Esmeralda, e eu, infelizmente, não possuo todas as virtudes morais de Quasimodo, o célebre corcunda da Catedral Notre Dame. Você me engrandece, sua simples existência me faz acreditar na beleza do universo, no entanto, mesmo se eu sonhasse com seu amor, se acreditasse no inalcançável e inatingível, não viraria príncipe, continuaria a ser o que sempre fui, um motejante sapo, ou uma besta disforme, aquela fera de circo indomesticável e repugnante. Apesar de tudo, há dias que acredito em meus oníricos pensamentos; as vezes acho que sua presença imaginária poderia, no futuro, tornar-se verdadeira, que meus delírios ao seu lado poderiam, com o tempo, materializar-se na realidade. Finjo, em alguns momentos, acreditar nas vozes que disciplinam minhas vontades, me aconselhando, através de sincopados dizeres, sobre as coincidências da vida e a imprecisão de nossas singulares certezas; elas também falam que não devemos renegar nossos próprios sonhos, pois eles só fazem sentido quando acompanhados de um sincero e pujante sorriso.

Caminho entre a esperança de meu coração, a mesmice do cotidiano, e a ignomínia de meus lamuriosos sofrimentos; e você, minha doce amada, habita todos estes três espaços. No meu órgão vital sua beleza mostra-se como a Vênus de Botticelli, inexpugnável e singela; no dia dia te olho e exergo a Mona Lisa, misteriosa e indecifrável; mas quando estou possuído por meus fantasmas internos, você transforma-se na Judith de Caravaggio, insidiosa e interesseira. Desculpe se a insulto, todavia não devo expurgar qualquer pensamento, somente revelando os meus mais secretos segredos, terei forças para encontrá-la novamente. Mas qualquer ofensa vomitada neste papel é falsa, sua opulência está isenta do mais insignificante defeito. Eu me rendo à sua perfeição, e assumo: nunca conheci ninguém tão autêntica e apaixonante; sua personalidade é única e indescritível, pois, mesmo fingindo ignorar a tudo e a todos, você consegue transmitir simpatia e nobreza. Não preciso discursar sobre sua beleza, isto seria tautologia de iniciante; nenhum traço, por mais geométrico e linear, iguala-se aos seus; por isso não há mortal neste mundo que sobreviva aos seus encantos.

Minha doce donzela, por que fui me apaixonar por ti?

Ontem tive um sonho, talvez um pesadelo. Estava em um tribunal sendo acusado por um crime perverso. Eu sabia que era culpado, não esperava a absolvição e muito menos a liberdade, queria ser punido, exemplarmente castigado. Contratei, de propósito, um péssimo advogado, o pior de todos; ele era gago, não conhecia as leis, e tinha a estranha mania de chorar durante as audiências judiciais. No dia de meu julgamento, o plenário estava abarrotado de faces conhecidas, ouvia-se irônicos cochichos a paralelos planos de distância, o juiz aguardava a chegada das testemunhas, e o promotor analisava, com ar jocoso, os autos do processo; enquanto isso, meu advogado dormia e eu perscrutava todo o ambiente, tentando me abstrair de minha vindoura humilhação. Quando o sol dobrou as sinapses de meu cerebelo, o juiz anunciou o início das atividades; chamou as primeiras testemunhas, que nada sabiam sobre o caso; eles apenas comunicavam dados imprecisos sobre a minha personalidade, muitos diziam que eu era introspectivo, tímido, muito irônico, sério nas formalidades e lúdico no cotidiano, além de alternar entre o egoísmo e a abnegação; um amigo próximo, solidariamente, relatou minhas piadas a respeito dos relacionamentos amorosos, minha indiferença perante o amor, e meu olhar seco e cáustico sobre a felicidade. Toda a ajuda das primeiras testemunhas de nada serviriam, a promotoria tinha provas contundentes e eu estava disposto a assumir minha culpa. Em seguida você, trajando um longo vestido negro, adentrou ao plenário para prestar seu testemunho; estava um pouco assustada, olhava, meneando a cabeça, para todos os lados, parecia querer encontrar alguém; por poucos instantes fui contemplado por seus piedosos olhos verdes, eles eram indulgentes, no entanto não me transmitiam calma, apenas intensificavam minha lancinante culpa. O promotor iniciou sua exposição, ele era severo e intransigente; mostrou ao juiz a prova capital - um caderninho desgastado – pediu, em seguida, para que você identificasse o dono daquele material comprometedor; vagarosamente seus delicados dedos apontaram para minha direção, gritos de surpresa propagavam-se pelo abafado ar que circundava aquela sala imaginária e recriada em sonho; meus segredos seriam, enfim, revelados. “Moça, leia o torpe conteúdo deste papel”, gritava meu aparente algoz com o olhar em chamas; lágrimas incutiam seus sinceros lamentos, mas você não teve escolha, respirou fundo, fechou demoradamente as pálpebras e leu, com um aperto na garganta, tais dizeres: “Hoje acordei feliz, descobri que te amava. Passei o dia pensando em seus olhos, rememorando sua angelical voz e delirando um fantasioso futuro ao seu lado...” mais a frente o texto continuava “...o Amor não pode ser um crime, pois ele só inspira as mais etéreas sensações, e se for preciso violar a lei, para anunciar ao mundo meu amor por ti, não hesitarei, pegarei em armas para desconstituir o governo, recrutarei mercenários para subjugar nossos vergonhosos líderes, sedendo a qualquer apaixonado o direito de comandar nossa nova nação, cuja a bandeira terá sua face e o hino será uma portentosa oblação ao seu inesgotável caráter...” e por fim, talvez os dizeres que mais chocaram o público: “Daria a vida por nosso Amor”. A plateia, insuflada de ódio, gritava: “Blasfêmia! Blasfêmia!”. Alguns riam insanamente, debochavam de meu exagerado sentimentalismo; mas todos queriam meu sangue, para eles um capadócio apaixonado não merecia viver. Despertado de seu cochilo, meu advogado começou a chorar, não havia nada a fazer; você foi dispensada, deixou o plenário aos prantos, caminhou trôpega até a saída com a expressão lúgubre, mas, nem mesmo o esgar de sua face lacrimosa arrefecia sua preeminente beleza. Naquele momento percebi que nunca mais teria o prazer de contemplá-la, que a vida perderia seu sentido, e que, independente do desfecho do julgamento, já estava morto, entregue ao vazio absoluto; no fundo, minha iminente sentença de morte seria um grande alívio. Ao ser chamado para depor, assumi minha culpa, disse ser o autor daquele caderninho, sem tartamudear e tentando transmitir imponência, gritei: “Não me arrependo; sou devoto do Amor!”. Os seguranças tiveram que conter os populares, recebi ameaças promíscuas e fui atingido por pedras, celulares e sapatos. Em poucos minutos a sentença foi pronunciada; estava condenado a pena máxima: tortura em praça pública; eu deveria servir de exemplo, pois a vários séculos ninguém ousava praticar crime semelhante. Não irei chocá-la com as cenas posteriores de meu sonho, no entanto, devo dizer: não senti um milésimo de dor, durante todo o martírio pensava em você, estava depurado, meus sentidos protegidos pela nobreza dos sentimentos verdadeiros que nutria por ti, e minha alma acalentada, livre para adentrar ao infinito.

Acordei molhado de suor, precisava voltar a lhe escrever, se continuasse calado enlouqueceria. Agora você deve estar se perguntando como fui capaz de lembrar de tantos detalhes deste sonho. Confesso: ando sonhando acordado, confundindo a realidade com meus pensamentos, misturando o onírico, o intraduzível e o inexato ao burlesco, simplório e letárgico. Meu intelecto, em alguns segundos intermináveis, parece parar no tempo; nestes momentos encontro você, crio estória pútridas que se acham belas, invento simulacros fantásticos para os acontecimentos mais comuns, escrevo versos natimortos, e tudo isso dentro do invólucro da incapacidade e da ingenuidade. Me perdoe, não tenho o direito de te amar, talvez aquele sonho tenha um significado, sou insuficiente para você, e meus simples pensamentos amorosos, sem sombra de dúvidas, poderiam ser tipificados como crimes hediondos. Sou um criminoso, e estou, legitimamente, preso; jogaram a chave de minha prisão fora, mas mesmo assim continuo cometendo infrações; temo ser um marginal irrecuperável, que continuarei, mesmo longe de seus olhos, a agredi-la com palavras estouvadas e perniciosas, a compungir-te com invectivas malévolas, imoladas pela minha insignificância. Peço, novamente, perdão, mas não posso parar; meu coração é intransigente, ele exorta meus dedos a seguir escrevendo.

Nossos últimos encontros foram estranhos, ao vê-la tenho sensações dúbias, fico encantado por estar perto de ti, e ao mesmo tempo envergonhado; gostaria de voltar no tempo, mas não dá. Se fosse bilionário investiria todo o meu capital em projetos de física, apenas para conseguir retroceder ao passado. Infelizmente, não tenho talento. Dinheiro? Apenas o suficiente para sobreviver; e além disso meu caráter é semelhante ao da média das pessoas de bem; sou, portanto, um indivíduo comum e minha individualidade é muito pequena, me diferencio somente em alguns aspectos anódinos e insípidos da multiplicidade das características humanas. Com tudo isso, deveria procurar uma pessoa igual a mim, comum e insignificante; mas desejo você, não controlo minha tolice amorosa, anseio o impossível, e, dessarte, devo sofre. Minha adorada donzela como tu és bela, passa longe do simplório e é diferente por natureza; seu brilho é contagiante, ele causa inveja nas mais perfeitas deusas do Olimpo; desde o seu nascimento, Afrodite deve estar se roendo de ciúmes. Você merece os mais portentosos castelos, não a mansarda tristonha que tenho a lhe oferecer. Minha única esperança é o amor que nutro por ti, ao menos ele é grandioso, e, certamente, inigualável. Não quero enaltecer meus sentimentos, mas se a tivesse aos meus braços, seria melindroso com todos os gestos e movimentos, evitaria qualquer falha, seria garboso, educado por excelência, entenderia todas as suas vontades, compreenderia suas ideias e incentivaria qualquer objetivo; sei que a vida não é perfeita, que os problemas surgem aos montes, no entanto, neste momento, dou espaço ao meu coração, deixo ele escrever por mim, domesticar meus solilóquios sombrios; pois através dele sinto-me envolvido por um intenso espírito romântico.

A esperança novamente, como sou tolo.

Posso nunca mais vê-la ou tocá-la; sei que esta carta pode ser o ponto final de qualquer reaproximação, ou amizade; mas foi inevitável, tinha que escrevê-la, estava enlouquecendo. Se você desaparecer materialmente de minha vida, ao menos a suas lembranças continuarão, eternamente, a me inspirar.

Minha Vênus, te amarei até meu último suspiro, você é o Stradivarius da minha orquestra.

FG

Obs: Como em uma postagem com formato semelhante, devo advertir, este texto é um conto (ou uma tentativa de conto), e os personagens são fictícios. Apesar dos clichês românticos presentes neste texto, precisava escrevê-lo.                         

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Tomei coragem e resolvi postar um comentário (risos). Na verdade cliquei no tópico por causa do quadro da Deusa Vênus, pensei: - uma critica sobre o amor? Engraçado, ñ esperava uma carta.
    Até consegui escutar uma leve musica de fundo, uma orquestra bem fininha e mansa, como se os sentimentos numa tentativa louca tentassem sair, antes de serem novamente engolidos... E a pergunta nunca se cala, será que os sentimentos um dia alcançaram o seu destino????
    Beijos – Poly
    P.S. Boa Sorte no Amor – e estarei esperando uma crítica sobre o Amor (Risos)

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    Respostas
    1. Fico muito honrado e agradecido por ter meu blog visitado e lido. Quando, ao abri-lo, observo que existe um novo comentário, minha felicidade, junto à motivação, se multiplica; portanto, não tenha medo de comentar, é um prazer receber dicas, críticas e incentivos, na verdade o medo deveria ser meu, que publico, com certa frequência, algumas bobagens.
      Acho que por enquanto não sou capaz de criticar o Amor, nem sei se ele é criticável; careço de experiências neste sentido. A respeito do "personagem" da carta, posso dizer que ele sofreu e sofre bastante por algo que julga ser Amor; ora é realista, ora delira, imaginando o impossível.
      Se existe um destino para o Amor e os sentimentos que o envolve, eu não sei; sinceramente acho que não, pois a vida é feita de acasos; geralmente seguimos desgovernados por caminhos incompreensíveis e misteriosos; o Amor não aparece quando queremos ele simplesmente chega sem avisar, se acomoda e dificilmente vai embora; talvez o segredo para suportá-lo, quando ele nos ignora, seja aceitá-lo, aprendendo a conviver pacificamente com sua presença. Enfim, como dito adoro escrever bobagens.
      Muito obrigado pela visita e pelo comentário; quando quiser volte a comentar, darei "pulos de alegria", afinal o objetivo em escrever e trocar informações, conversar e bater papo.
      Um grande abraço.

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