Se fosse dor tudo na vida, Seria a morte o grande bem. Libertadora, apetecida, A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - Vem! Quer para a bem-aventurança Leves de um mundo espiritual A minha essência, onde a esperança Pôs o seu hálito vital; Quer no mistério que te esconde, Tu sejas, tão somente, o fim: - Olvido, imperturbável, onde "Não restará nada de mim!" Mas horas há que marcam fundo... Feitas, em cada um de nós, De eternidades de segundo, Cuja saudade extingue a voz. Ao nosso ouvido, embaladora, A ama de todos os mortais, A esperança prometedora, Segreda coisas irreais. E a vida vai tecendo laços Quase impossíveis de romper: Tudo o que amamos são pedaços Vivos do nosso próprio ser. A vida assim nos afeiçoa, Prende. Antes fosse toda fel! Que ao se mostrar às vezes boa, Ela requinta em ser cruel... (Poema retirado do livro Melhores Poemas de Manuel Bandeira; seleção de Francisco de Assis Barbosa da Editora Global)