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Mostrando postagens de 2012

Solidariedade Alcoólica, parte I

Autores: Abdiel Fernandes, Douglas Banhato, Felipe Guimarães. TEXTO CENSURADO AF-DB-FG Obs: Esta postagem foi  temporariamente suspensa .       

Carta à Mulher Amada

Não sei quais caminhos traçar ao lhe escrever esta sincera carta de amor; mas se pudesse expressar em palavras todos os meus sentimentos, me apaixonaria por cada centímetro deste papel; porque você está dentro de mim, em cada respirar, em cada pensamento, em cada transpiração e devaneio. Caso meu talento permitisse materializá-la em versos, seria um grande poeta, talvez o maior de todos, pois não há inspiração que se compare aos seus exuberantes olhos verdes, à sua pele alva e, sobretudo, ao seu sorriso de delicados e pequeninos dentes brancos; no entanto sou parvo, não domino a linguagem, e nunca conseguiria alcançar o menor laivo de sua inefável beleza. Você não merece palavras tão vulgares quanto as minhas; Fernando Pessoa, Drummond, ou o jovem Álvares de Azevedo talvez pudessem ter a honra de admirá-la em versos, mas eu, um pobre tolo, deveria, à semelhança do rei Édipo, arrancar meus olhos, caso ousasse contemplar o lirismo infinito que irradia de seu munificente âmago.

Devaneio III - David Bowie

Qual é meu caminho? Estou na estrada correta? Quem sou eu?  Por favor, deixem-me degenerar, quero ser louco, fundir minha cabeça ao vazio absoluto, sorver meus neurônios e vomitá-los, degluti-los em linguagem tosca, anti poética. Estou na estrada, e sigo o caminho contrário, pois prefiro a desordem, o caos, o esquecimento, a feiura, a violência e a volúpia do aborrecimento; hoje vou estrangular o belo, proclamar a república da tortura, promover, a chefe de cozinha, os grandes canibais; clamo pela insanidade, busco, sequiosamente, a imoralidade, persigo, com determinação, os grandes escritores da morte, e mastigo, utilizando os ouvidos, o inalcançável e etéreo. Irei exultar as perniciosas feiticeiras, sexualizar meus olhos para poder penetrar fundo em qualquer libertinagem do desejo, convidar os mais nefastos sujeitos para frequentar minha casa e meus anseios. Digo aos párias que não encontram nenhum lugar, para adentrarem ao meu espaço; vamos promover um choque cultural, faze

O Pêndulo e a Ninfa

A Chegada Acordei, perdido em meus sonhos; o primeiro toque de meus olhos com o ar cegaram meus sentidos; apenas sua face, presa nos esconderijos sombrios de meus pensamentos, se fez presente, anunciando doces tempestades para um futuro lamurioso e pungente. Caminhei aturdido, sem direção, estava em um pântano cinzento, repleto de árvores tépidas que riam ao meu redor; ervas sugavam meu sangue, e aos poucos afundava sobre a lama fria. Meu corpo, completamente circundado de material terroso, em um momento, ao contemplar seu olhar, foi içado para longe da minha dimensão interior; fui recolhido aos lindos e floridos vales de um novo mundo, cheguei em terra estrangeira; neste lugar não havia espaço para meus perniciosos demônios, apenas uma parte de mim existia; estava finalmente leve, pronto para admirar outros horizontes. Sentia que o vento me chamava, cantarolava aos meus ouvidos canções campestres, sibilava um cálido ar de sonoridade aconchegante, dizia frases belas, poéti

Millennium I - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres - Stieg Larsson

O primeiro livro da série Millennium, Os Homens que Não Amavam as Mulheres, é um exemplar de grande entretenimento. O autor sueco Stieg Larsson escreve com propriedade, ele parece conhecer a fundo os bastidores do jornalismo empresarial e investigativo, pois toda a trama engendrada mostra-se coerente e plausível; mesmo ao abordar temas que nas mãos de autores menos capacitados degringolariam para um estória chata ou, como geralmente acontece, inverossímil, Larsson mantém o domínio sobre os fatos, consegue dar agilidade à narrativa e além disso, utilizando o suspense como um mecanismo de sedimentação entre os capítulos, envolve e prende seus leitores. O livro se divide em duas tramas paralelas, de um lado temos a investigação do desaparecimento de Harriet Vanger, adolescente de dezesseis anos que em 1966 some misteriosamente na ilha de Hedebyön, e de outro a rivalidade entre o jornalista e editor da revista Millennium Mikael Blomkvist com o mega empresário Hans-Erik Wennerstr

Devaneio II - Rachmaninov

Isto é um sonho, ou apenas um delírio juvenil? Existe liberdade no sofrimento? Fechem meus olhos... Estou preso, absorvido ao efêmero; tento achar uma saída, mas não tenho escolha, a morte me espreita em infindáveis labirintos. Após praticar o suicídio espiritual, esperava encontrar a chave da bem aventurança... doce ilusão; a cada dia sinto-me mais perdido, quando viro a direita, vozes estridentes e asquerosas me advertem sobre o insucesso de minhas decisões; então, mudo de ideia, opto pela esquerda, não encontro nada; o vácuo de meus pensamentos são contornados por palpites inúteis, frágeis e muitas vezes enganosos. Ao andar em todas as direções percebo que a sinceridade excessiva é apenas o prelúdio da mentira. Não quero escutar os outros; mas, por ser completamente parvo, ao invés de tapar os ouvidos, eu fecho os olhos; não vejo o óbvio, e, o pior, sou forçado a ouvir bobagens. Por isto venho tentando fortificar milha ilha interior; já sofri muitos ataques, fieis soldados

A Vida Assim Nos Afeiçoa - Manuel Bandeira

Se fosse dor tudo na vida, Seria a morte o grande bem. Libertadora, apetecida, A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - Vem! Quer para a bem-aventurança Leves de um mundo espiritual A minha essência, onde a esperança Pôs o seu hálito vital; Quer no mistério que te esconde, Tu sejas, tão somente, o fim: - Olvido, imperturbável, onde "Não restará nada de mim!" Mas horas há que marcam fundo... Feitas, em cada um de nós, De eternidades de segundo, Cuja saudade extingue a voz. Ao nosso ouvido, embaladora, A ama de todos os mortais, A esperança prometedora, Segreda coisas irreais. E a vida vai tecendo laços Quase impossíveis de romper: Tudo o que amamos são pedaços Vivos do nosso próprio ser. A vida assim nos afeiçoa, Prende. Antes fosse toda fel! Que ao se mostrar às vezes boa, Ela requinta em ser cruel... (Poema retirado do livro  Melhores Poemas de Manuel Bandeira; seleção de Francisco de Assis Barbosa da Editora Global)  

Devaneio I - Schubert

Devo admitir: a música é a arte mais democrática. Necessitamos apenas dos ouvidos para se deleitar com a sonoridade sublime desenvolvida por alguns artistas que alcançaram a perfeição. Schubert, o que dizer desse magistral compositor? Ao ouvir esta canção, sinto meu corpo destruído, consumido por doces espasmos musculares; minha visão se turva diante da insuportável beleza dos acordes do violoncelo, do delicado cintilar das teclas do piano, e, sobretudo, do inefável viajar das agudas e amargas ondas sonoras de um violino propositadamente claudicante. Tudo que desejo torna-se intraduzível; choro cáusticas alegrias, vociferando oceanos lacrimosos de ironia, apenas para conquistar migalhas mesquinhas que não merecem nada além do rústico e gutural rugido epidérmico de leões marinhos.  Aceitar o tormento, mesmo rodeado da sinceridade mais essencialmente singela, corrói meus frágeis ossos; não quero a simpatia alheia; esqueçam que eu existo, pois eu já esqueci. A cada abrir de olho

O Bom Gosto Artístico, parte III

Em uma postagem anterior esclareci que as obras de arte têm a capacidade de oferendar aos indivíduos autocontrole; quanto maior o nosso nível de apreciação estética maior será nosso autoconhecimento. Após as reflexões do texto supracitado, me vejo na obrigação de reavaliar meus critérios, já definidos em um passado próximo, sobre o bom gosto artístico. Recapitulando, descobrimos que ser sensível e, ao mesmo tempo, vulgar em nossas escolhas culturais é reflexo de uma original inteligência estética; o belo, portanto, poderá nascer nos calabouços mais obscuros, e da mesma forma, o pútrido, em algumas situações, se esconderá atrás de máscaras exuberantes. Enfim, ter bom gosto é privilégio daqueles que sabem diversificar suas escolhas culturais. Mas se a arte é uma oblação em sentido inverso, uma oferenda dos deuses (artistas) a seus súditos (consumidores), negar o valor de algumas obras genuinamente belas em detrimento do entretenimento mesquinho e tolo, não seria uma enorme incong