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Postagens

Ferreira Gullar em Dois Atos

Traduzir-se Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte? Mar Intacto Impossível é não odiar estas manhãs sem teto e as valsas que banalizam a morte. Tudo que fácil se dá quer negar-nos. Teme o ludíbrio das corolas. Na orquídea busca a orquídea que não é apenas o fátuo cintilar das pétalas: busca a móvel orquídea: ela caminha em si, é contínuo negar-se no seu fogo, seu arder é deslizar. Vê o céu. Mais que azul, ele é o nosso sucessivo morrer. Ácido céu. Tudo se retrai, e o teu amor oferta um disfarce de si. Tudo odeia se dar. Conheces a água? ou apenas o som do que ela finge? Não te aconselho o amor. O amor é fácil e triste...

Melhores Filmes da Década de 00 - Retratação

É preciso estar triste pra escrever, ou, no mínimo, ter alguma motivação. Esta, ao conjugar sensações em raciocínio, nos tenciona a fantasiar uma realidade que nunca se materializa em sonho. Sonhar é um estágio profundo e interior do sentir, só sonhamos com aquilo que modifica nossa maneira de nos relacionar com o mundo; a fantasia, herdeira do pensamento, ao revés, aglutina certezas em volta de ideias abstratas privadas de significado. Não! Por favor, acreditem; não perdi a razão, tampouco lucubro falsas verdades para confundir possíveis leitores. As bobagens deglutidas neste papel eletrônico são nebulosas, porque não consigo me desvincular dos meus sentidos; sou prisioneiro da sensibilidade, e, por mais que eu insista em afirmar o contrário, meus olhos, ouvidos, paladar, olfato, e minha pele são ignóbeis ditadores, alheios a justiça e carentes de bondade; diante deles meus pensamentos, raciocínios, não ultrapassam a condição enxovalhada e miserável dos andarilhos. Vivo para e pelo...

À Procura de Ideais Desconhecidos

Hoje, em Juiz de Fora, voltaremos às ruas para novamente chamar a atenção. Segunda-feira milhares caminharam da praça São Mateus até o centro da cidade. Meus companheiros etários, felizes em participar de algo novo, naquele dia, tentaram manter a seriedade, disfarçaram o júbilo, e esconderam a satisfação. Eles estavam protestando e, portanto, era necessário assumir um esgar indignado. Não participei da caminhada, pois já na concentração me senti acossado por tristes e contraditórios pensamentos, sabia da importância simbólica daquele ato, mas tive medo, e ainda tenho, de ser apenas mais um convidado de uma camuflada orgia manipulativa. É estranho perceber que no meio de tantos que se dizem enxovalhados por uma realidade perversa, não haver nenhum reflexo sincero de humilhação; estavam todos felizes, sorridentes. Tudo bem, este sentimento é natural, pela primeira vez estávamos abraçando à cidadania. Aquele foi nosso primeiro e mais robusto protesto, mesmo assim me senti uma peça d...

Comunicado À Juventude Patética

Talvez estejamos vivenciando dias históricos, de profundas mudanças. Jovens mobilizados, juntos, confraternizando um desejo pacífico por transformações políticas, éticas e sociais, representam a construção de uma nova identidade; em poucos dias nossa geração rompeu com a letargia cívica mostrando, finalmente, que é possível incomodar, com legítimas demandas, as estruturas arcaicas que ainda sedimentam e controlam o espaço público do nosso país. Mas quais seriam estas demandas? O fim da corrupção, da falta de transparência no manejo orçamentário, dos privilégios concedidos a grupos poderosos, do preconceito, da má distribuição dos recursos, da opressão social, da incompetência administrativa? Talvez, o repúdio ao extremismo religioso, ao pensamento burguês, ao nosso sistema político falido, à falta de estrutura, à péssima qualidade da educação e da saúde, à elevada carga tributária? Quem sabe estas demandas não sejam contra o inchaço do Estado, fruto dos resquícios de ideais social...

TOP 50 - Filmes da Década de 00 - part. VI

Em uma das minhas recreações na biblioteca da UFJF, encontrei um livrinho de citações, uma em especial chamou minha atenção, não perdi tempo em transcrevê-la, algo naquelas palavras parecia me impulsionar a uma nova verdade. Coincidentemente, hoje ao ler, na última edição da revista Carta Capital, uma matéria sobre o finado historiador Eric Hobsbawm, fui surpreendido pelos mesmos dizeres. Agora, tentando desvendar esta casualidade sincrônica, descubro meu retrocesso linguístico; minha memória sentimental, ao ludibriar o intelecto, subverteu minha escrita, transformando-a em um joguinho de erros e acertos. Alguns preferem a sugestão, outros são aficionados por pés, há ainda aqueles que detestam incomodar a imagem com música; eu, ao contrário, adoro camuflar o óbvio e sugerir o impossível, tenho certa predileção pelos olhos que, ao escolherem o verde em nosso lindo espectro de cores, amplificam minha sensibilidade a níveis apaixonantes, e, é claro, sobre formas e barulhos, ten...

TOP 50 - Filmes da Década de 00 - part. V

As frases que antecedem os comentários dos filmes não são meros desabafos, tampouco representam confidências inúteis de um sujeitinho desavergonhado e boçal. O objetivo em criar uma super postagem dividida em várias partes é, além de opinar sobre as respectivas obras, exercer a escrita diariamente. Estabelecer um caminho ou uma meta facilita meu empreendimento, e, vale lembrar, que, quando escrevo, crio um personagem atormentado pela dor de não possuir dor alguma; minha multifária persona social, alienada, sado masoquista e compungida por um imenso sentimento de culpa e remorso, segue a inspiração das películas em comento, nada é gratuito e todos os textinhos de abertura obedecem, em maior ou menor grau, a temática sugerida. Ao leitor mais atento, ofereço um pequeno enigma facilmente desvendável; basta assistir aos filmes e tudo passa a fazer sentido. Confesso: sinto prazer em me expor ao ridículo, pois minha liberdade e desapego às falsas aparências apenas se elevam...

TOP 50 - Filmes da Década de 00 - part.IV

Fazendo uma análise jocosa das três partes anteriores, percebi em meus textos uma certa propensão ao ridículo; mesclando subjetivismos e clichês, transformei comentários em emaranhados de palavras confusas e desinteressantes; entre o distanciamento pseudo erudito, confidências plangentes e a análise burocrática iniciei um estilo novo, inovador e vergonhoso. Meu orgulho e originalidade ficam armazenados, presos em meu sub-consciente, esperando, em estado latente, a oportunidade para anunciar ao mundo minha índole irônica de fracassado. Sempre ansiei a imoralidade, quis de todas as formas homenagear o ímpio, o vil, o reles; porém minha criação cristã e minha personalidade comedida nunca permitiram o menor desviu. Tenho, infelizmente, um ótimo coração, sou correto, bom samaritano, incapaz de machucar meu maior inimigo; sempre, à semelhança da imensa maioria, irei carregar a cruz do homem comum, bem comportado, e por mais que eu tente o contrário, serei - mesmo mudando o visual, a c...