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Vidas Secas - Graciliano Ramos

Após me enternecer com a suposta futilidade amorosa do jovem Werther, nada melhor que embarcar em um ignóbil drama social; Vidas Secas me transportou novamente à realidade, me sinto, após a leitura, renovado e com muitas dúvidas. Somos todos parvos, tendemos a supervalorizar nosso ego, nossas pequenas mazelas e dores. O que é o tédio diante da fome? Nós, jovens burgueses, bem alimentados e bem vestidos já experimentamos algum sofrimento verdadeiro? Aff... deixemos de lado estas reflexões adolescentes, vamos ao que interessa. Sinceramente, não tenho muito a dizer sobre este monstruoso romance brasileiro, para os que procuram se informar sobre o enredo do livro, eu lhes aconselho a procurar no google outros comentários infinitamente melhores do que este. Se meu blog não passa de uma ilha governada e abitada por um único sujeito, e se isto às vezes me incomoda um pouco, ao menos agora, ao escrever sobre a obra prima de Graciliano, sinto-me aliviado por não possuir leitores. Este...

Goethe e Schubert: União de Dois Gênios

Goethe escreveu, Schubert musicalizou, e nós, meros mortais, fomos contemplados com o sublime, perfeito e inefável. Quem dera se a vida fosse apenas arte. Em respeito ao poeta alemão, abaixo deixo postado a poesia utilizada por Schubert para criar uma das suas melhores obras. Erlkönig Wer reitet so spät durch Nacht und Wind? Es ist der Vater mit seinem Kind; Er hat den Knaben wohl in dem Arm, Er faßt ihn sicher, er hält ihn warm. "Mein Sohn, was birgst du so bang dein Gesicht?" "Siehst, Vater, du den Erlkönig nicht? Den Erlenkönig mit Kron und Schweif?" "Mein Sohn, es ist ein Nebelstreif." "Du liebes Kind, komm, geh mit mir! Gar schöne Spiele spiel' ich mit dir; Manch' bunte Blumen sind an dem Strand, Meine Mutter hat manch gülden Gewand." "Mein Vater, mein Vater, und hörest du nicht, Was Erlenkönig mir leise verspricht?" "Sei ruhig, bleib ruhig, mein Kind; In dürren Blättern säuselt...

Os Sofrimentos do Jovem Werther - J. W. Goethe

Se aventurar nas cartas do jovem Werther é tarefa delicada, aconselhável apenas àqueles que já sofreram a dor de um amor não correspondido; pois para inebriar-se com o ambiente ultrarromântico, melindrosamente trabalhado pelo arguto e fantástico escritor alemão, temos que assumir a postura ingênua dos apaixonados, lembrar do desespero mesquinho, das lágrimas injustificadas, da falta de ânimo, da letargia inviolável e, principalmente, do sentimentalismo oco, vazio, irracional e egoísta. Todos nós, que já perdemos nosso precioso tempo prostrados, com a cabeça no travesseiro, ao rememorar os momentos idílicos de um passado idealizado e corrompido, sentiremos um poder nostálgico ao ler as cartas de Werther, por vezes graciosas e descritivamente belas, mas outras vezes amargas e desesperançosas. Neste livro a literatura assume seu papel mais genuíno, emocionar pela reprodução de uma irrealidade vivida e compartilhada por quase todos nós; ao instigar a imaginação do leitor, desanuv...

Quando Nietzsche Chorou - Irvin D. Yalom

O amor, eis a causa de qualquer infortúnio humano; este sentimento provoca dores insuportáveis, distúrbios desproporcionais, delírios inconsequentes e todo tipo de angústia; quem já foi rejeitado, certamente experimentou uma lancinante pressão no tórax, aquele aperto no peito sufocante, intolerável. E o quê dizer da náusea, o mal estar abdominal, a ânsia de vômito, a incapacidade de raciocínio, os tremores, a fria exsudação e as intermináveis lágrimas; são estes os sintomas desta doença eternamente incurável e sem nenhum método preventivo, pois não é possível tratar uma dor que arde sem se ver, uma ferida que dói e não se sente, ou o monástico contentamento descontente*. Somos todos transmissores e hospedeiros, os algozes e as vítimas, desta mazela indescritivelmente tosca e bela. Amar sem ser amado é a maior violação do querer humano, pois, ao ter nossa principal vontade afetiva negada, desenvolvemos as piores anomalias mentais e os maiores e mais insidiosos desequilíbrios psi...

Making-of do Discurso Vazio

Recentemente, ao folhear um livrinho de história da filosofia na seção destinada ao holandês de origem portuguesa Baruch Spinoza, encontrei a melhor definição para a inteligência; para o pensador ela não é mais do que uma escrava da vontade cega. Somos seres originais porque ao contrário dos outros animais temos a capacidade de racionalizar comportamentos, atitudes ou ideias; tudo o que fazemos passa pelo crivo do nosso intelecto, quando sentimos fome comemos, no entanto, diferente dos outros organismos vivos, antes da alimentação ponderamos uma serie de informações; para processar a escolha de qual alimento deveremos consumir, os critérios são vários, podemos escolher a comida mais próxima, acessível, saudável, saborosa, calórica ou energética; o escopo é infindável. Nosso raciocínio será imprescindível na organização dos pensamentos condutores de nossas escolhas, e é neste cruzamento de ideias que a vontade se insere. Ao sentir fome temos uma vontade primária de comer, contud...

O Apanhador no Campo de Centeio - J. D. Salinger

Existem algumas obras que permanecem por muito tempo no imaginário popular, este é o caso do Apanhador no Campo de Centeio. O  livro, escrito no final dos anos quarenta, em linguagem extremamente coloquial, narra a estória de Holden Caulfield, adolescente de 17 anos que, ao ser expulso do colégio, vaga pelas ruas e bares de Nova Iorque pelo simples receio de dar a notícia aos seus pais. Talvez o sucesso da obra seja oriundo de sua acessibilidade textual e das situações descritas, com conotações sexuais e nada aristocráticas; há, inclusive, uma  enxurrada  de palavrões grafados ao longo das páginas do romance; e em momento algum temos a sensação de estar lendo um texto literário, mas a transcrição de uma conversa, uma confissão ou uma entrevista. Narrado em primeira pessoa, acompanhamos em detalhes as confusas reflexões do personagem principal, que parece não sentir prazer com nada; todos para ele, com exceção dos irmãos, são pulhas insuportáveis, imbecis desprez...

Camões vs. Gonçalves Dias - um duelo aos olhos verdes

Redondilha de Camões Menina dos olhos verdes Por que me não vedes? Eles verdes são, E têm por usança Na cor esperança E nas obras não Vossa condição Não é de olhos verdes, Porque me não vedes. Isenção a molhos Que eles dizem terdes, Não são de olhos verdes, Nem de verdes olhos. Sirvo de geolhos, E vós não me credes, Porque me não vedes. Havia de ser, Por que possa vê-los, Que uns olhos tão belos Não se hão de esconder. Mas fazeis-me crer Que já não são verdes, Porque me não vedes. Verdes não o são No que alcanço deles; Verdes são aqueles Que esperança dão. Se na condição Está serem verdes, Por que me não vedes? (poema retirado do livro Lírica Redondilhas e Sonetos de Camões da editora Ediouro) Olhos Verdes de Gonçalves Dias São uns olhos verdes, verdes, Uns olhos de verde-mar, Quando o tempo vai bonança; Uns olhos cor de esperança Uns olhos por que morri; Que, ai de mi! Nem já sei qual...