Sinto dentro de mim que algo não está no seu lugar. Briguei com Tomás a poucos minutos, ele saiu louco pelas ruas. Queria ficar sozinha, na verdade queria ficar longe de Tomás, um mês ao menos. Não suporto mais seus ciúmes e cobranças, talvez não suporte mais nosso relacionamento. Eu o amo, tenho certeza disso, mas algo mudou, não sinto, como antigamente, aquela ânsia de estar ao seu lado, nem aquele desejo maluco de abraçar, beijar, transar. Talvez não esteja mais apaixonada.
Ontem aconteceram coisas surreais, estive próxima de cometer uma loucura. Me censurei, ou seriam as ideias de Tomás que me censuraram? Já estou farta dessas regras, desse comportamento mesquinho, conservador. Não posso abdicar do novo, limitar minha existência a estas coisinhas pequenas. Também não posso abandonar Tomás. Eu o amo, o amo muito. No entanto, por que não posso amar mais, amar o novo? Meu Deus, estou sem saída.
Carolina (28, abril, 2015) - manhã - terça
Tomás já foi pra sua biblioteca, deve voltar só a noite. As coisas se assentaram, parece que tudo voltou ao normal. Vou aproveitar este tempo pra escrever o que não consegui sobre o final de semana.
Sábado sai com Tomás, Vivi e Lothar. Fomos no "Circuito" beber cerveja e conversar fiado. Vivi, como sempre, ficou falando coisinhas retardadas, nada que prestasse, Tomás ficou tentando impressionar todo mundo discursando qualquer coisa de literatura que já não me lembro mais, e Lothar ficou meio receoso de participar da conversa e quase não disse nada. Lá pelas tantas e depois de muitas cervejas e algumas tequilas, fui ao banheiro. Tinha uma moça morena de cabelos lisos se maquiando na frente do espelho. Quando entrei ela olhou pra mim, sorriu, e disse, sem ao menos perguntar meu nome, se eu queria tocar na banda dela. Achei estranho, mas respondi que sabia tocar saxofone. Sax? que sexe, ela respondeu. Depois se aproximou, intumesceu os lábios e mordeu, com delicadeza e usando a língua, minhas orelhas. Fiquei arrepiada. Tive vontade de abraçá-la e retribuir suas carícias, ma fiquei sem reação. Ela, percebendo meu constrangimento, pegou um papel anotou alguma coisa e me entregou. No bilhete tinha um número de celular e estava escrito:
"Me liga amanhã, vou ensaiar em casa as quatro da tarde. Poderemos brincar de outras coisas também. Leva o Sax"
Ela saiu do banheiro sem sequer dizer seu nome ou perguntar o meu. Lavei meu rosto e quando voltei pras mesas percorri meus olhos pelo bar sem, no entanto, encontrar aquela morena linda. Assentei ao lado do meu amorzinho e continuei conversando como se nada tivesse acontecido.
No domingo pela manhã fiquei lembrando dela, lembrei dos seus olhos negros cheios de desejo, dos seus lábios roçando minhas orelhas, daquele sorriso indescritível. Tive vontade de ligar, mas não liguei. O que eu ia dizer? não sabia nem o nome dela, sem contar que tinha muito tempo que não tocava Sax. Mas será que aquele convite para ensaiar era verdadeiro? Podia ser qualquer outra coisa.
Durante a tarde, enquanto Tomás jogava futebol com os amigos, encontrei Vivi na casa dela. Contei tudo sobre a morena. Vivi sugeriu que ligássemos pra ela, só pra sabermos do que tudo aquilo se tratava. Aquele bilhete poderia ser um blefe, afinal talvez a morena estivesse bêbada, ou louca, drogada, sei lá. Não ligamos. O bilhete com o número estava no bolso da minha calça usada na noite anterior, ou em algum outro lugar, naquele momento não recordava seu paradeiro.
Ao voltar pra casa, encontrei Tomás com o olhar em fúria, ele segurava um papelzinho na mão. Minha primeira reação foi de raiva. Se aquele fosse o bilhete da morena significava que Tomás tinha vasculhado minhas coisas, tentado me espionar. Isso era inadmissível. Gritei com ele, disse que não tinha o direito de mexer nas minhas coisas. Ele se justificou, aos berros, argumentou que quando voltou do futebol colocou as roupas na máquina de lavar, conferindo os bolsos pra ver se não havia nenhuma nota de dinheiro ou papéis. Achou por acaso aquele bilhete na minha calça. Com mais fúria perguntou se eu havia brincado bastante. Fiquei louca com esta desconfiança injusta e parti pra cima dele. Tentei golpeá-lo com meus punhos, ele se defendeu e me jogou ao chão. Extremamente ofendida e irritada, expulsei-o de casa.
Na segunda ele voltou pela manhã, disse que foi pra casa do Miguel e que dormiu por lá. Eu contei tudo sobre o bilhete, mas não disse que a morena lambeu meus ouvidos muito menos sobre minha excitação, e ele, com aquele olharzinho de quem está arrependido mas não tem coragem de confessar, se queixou dizendo que eu deveria ter contado tudo antes. Falei que havia passado a tarde na casa da Vivi e que nem lembrava direito daquele bilhete. Menti, não poderia revelar meus desejos.
No domingo, antes de dormir e depois da briga, fiquei lembrando da morena. Se o desgraçado do Tomás não tivesse sumido com o bilhete, ligaria pra ela só pra ouvir algumas sílabas pronunciadas por aquela boca linda.
Merda! Talvez nunca mais encontre aqueles lábios, aquele olhar.
Queria despi-la, sentir seus seios, cheirar seu sexo. Queria ter meus ouvidos tocados, penetrados. Queria muito abraçá-la, roçar nossos corpos nus. Queria, e, este querer, me fez gozar, sozinha no quarto, pensando nela, na morena.
FG
Durante a tarde, enquanto Tomás jogava futebol com os amigos, encontrei Vivi na casa dela. Contei tudo sobre a morena. Vivi sugeriu que ligássemos pra ela, só pra sabermos do que tudo aquilo se tratava. Aquele bilhete poderia ser um blefe, afinal talvez a morena estivesse bêbada, ou louca, drogada, sei lá. Não ligamos. O bilhete com o número estava no bolso da minha calça usada na noite anterior, ou em algum outro lugar, naquele momento não recordava seu paradeiro.
Ao voltar pra casa, encontrei Tomás com o olhar em fúria, ele segurava um papelzinho na mão. Minha primeira reação foi de raiva. Se aquele fosse o bilhete da morena significava que Tomás tinha vasculhado minhas coisas, tentado me espionar. Isso era inadmissível. Gritei com ele, disse que não tinha o direito de mexer nas minhas coisas. Ele se justificou, aos berros, argumentou que quando voltou do futebol colocou as roupas na máquina de lavar, conferindo os bolsos pra ver se não havia nenhuma nota de dinheiro ou papéis. Achou por acaso aquele bilhete na minha calça. Com mais fúria perguntou se eu havia brincado bastante. Fiquei louca com esta desconfiança injusta e parti pra cima dele. Tentei golpeá-lo com meus punhos, ele se defendeu e me jogou ao chão. Extremamente ofendida e irritada, expulsei-o de casa.
Na segunda ele voltou pela manhã, disse que foi pra casa do Miguel e que dormiu por lá. Eu contei tudo sobre o bilhete, mas não disse que a morena lambeu meus ouvidos muito menos sobre minha excitação, e ele, com aquele olharzinho de quem está arrependido mas não tem coragem de confessar, se queixou dizendo que eu deveria ter contado tudo antes. Falei que havia passado a tarde na casa da Vivi e que nem lembrava direito daquele bilhete. Menti, não poderia revelar meus desejos.
No domingo, antes de dormir e depois da briga, fiquei lembrando da morena. Se o desgraçado do Tomás não tivesse sumido com o bilhete, ligaria pra ela só pra ouvir algumas sílabas pronunciadas por aquela boca linda.
Merda! Talvez nunca mais encontre aqueles lábios, aquele olhar.
Queria despi-la, sentir seus seios, cheirar seu sexo. Queria ter meus ouvidos tocados, penetrados. Queria muito abraçá-la, roçar nossos corpos nus. Queria, e, este querer, me fez gozar, sozinha no quarto, pensando nela, na morena.
FG
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