Bleu escreveu a petição. Seu texto era fluído e convincente, porém não sabia como provar a indispensabilidade de Ravi junto aos cogumelos. Sem aquele tópico a peça seria arquivada. Ainda tentando solucionar o problema, reencontrou Colère e pediu para que o mesmo retirasse o garoto do hospital. O vermelho, com a ajuda de dois policiais que o acompanhava, escoltou o corpo do menino para fora da cidade. Com a presença oficial da guarda, os médicos e enfermeiros nada puderam fazer para impedir a retirada do comatoso. Os policiais estavam mais preocupados em se livrarem do problema, a presença de estrangeiros sempre lhes causavam transtornos, do que com a saúde do rapaz.
Sozinho com Ravi, Colère, com auxílio do tapete voador, se dirigiu à aldeia do Povo do Maracujá. Para Bleu, aqueles homens tão semelhantes ao menino, poderiam salvá-lo. Enquanto isso, o azul aguardou o retorno de Giallo. Quando o amarelo retornou, os dois trataram de escrever o tópico faltante da petição.
"Já sei Bleu. Vamos falar sobre as Criaturas Negras. Escreva que o menino encontrou uma dela nas imediações da cidade. Que em breve esta criatura tentará nos atacar. Escreva também que Ravi possui uma flauta mágica, desenvolvida pelo povo monstruoso, capaz, caso tocada da forma correta, de adormecer qualquer um da espécie. Coloque aí que apenas o menino sabe manejar o instrumento, e que a presença dele é a única solução para nos livrarmos do ataque da criatura."
"Isso é absurdo. Além de não ser verdade, dificilmente eles irão acreditar nesta fantasia. Todos sabem que as Criaturas Negras foram extintas."
"Eles acreditarão. Nós temos a flauta. Eles farão uma perícia e, quando constatarem que trata-se de uma flauta das Criaturas Negras, ficarão com tanto medo que certamente irão nos dar ouvidos. Ravi, receberá a máscara, ficará uns tempos com o Senhor Green, e quando todos se esquecerem do assunto, ele poderá voltar pra casa."
Em desalentos, Bleu redigiu o tópico. Não acreditava no sucesso daquelas espúrias argumentações. Giallo, contudo, estava muito contente; seu plano ia ganhando corpo, e seus problemas se rearranjando. O amarelo tinha imenso talento para solucionar entraves a curto prazo. Mas a sua forma de lhe dar com os obstáculos era insanamente temerária; superava conflitos pegando atalhos tão perigosos que sem perceber criava situações árduas, procelosas.
Para se livrar de uma dívida com o Senhor Green, produziu aquela série de eventos muito mais complexos. Se antes tinha um probleminha a resolver, agora teria de enfrentar algo gigantesco. Criou tantos empecilhos com suas falácias que dificilmente conseguiria resolver tudo e sair ileso. Apesar disso, não atinava para o tamanho da encrenca que estava se metendo, e quando mais inventava estórias, maior era o seu ânimo para continuar a mentir.
Partiram para o palácio real e juntos com Amertume foram ao encontro dos três ministros. Dois deles eram roxos, o terceiro violeta. Cada qual comungava com um estilo filosófico único. O mais velho, com a cabeça quase tão grande quanto a do Senhor Green, tinha uma posição moderada e geralmente servia de balança entre os outros dois. O violeta era conservador, e dificilmente daria provimento em favor de um estrangeiro. O outro roxo, o mais jovem dos três, estava conectado com as teses progressistas; seria o caminho mais seguro para galgarem sucesso. Giallo sabia do posicionamento ideológico dos ministros; não se preocupava com o violeta e com o mais jovem, suas atenções se voltariam exclusivamente ao ministro ancião. O seu voto seria o mais importante, desempataria as divergências dos outros dois. Sabendo disso, teria que incutir medo no magistrado, convencendo-o que apenas o garoto poderia salvar a cidade de um iminente ataque.
FG
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