No prefácio do romance “O Retrato de
Dorian Gray”, Oscar Wilde definiu, com perspicácia e toques de
ironia, as obras de arte; para o autor, um homem que cria algo inútil
pode ser perdoado somente se admirar, com uma profundidade
apaixonada, sua própria criação; o artista não constrói sua obra
para solucionar problemas práticos, tampouco lucubra objetivos
vindouros com os frutos do seu trabalho; ele pinta, esculpi, compõe,
escreve, constrói, filma, canta, molda, desenha, fotografa por mera
necessidade existencial ou, às vezes, fisiológica. A obra de arte é
aquela que sem dizer nada encanta nossos olhos, ouvidos, braços,
pernas, o estômago, o fígado, o cérebro, testículos, ossos,
músculos, artérias, veias, nossos dedos, vermes, parasitas, o ego,
o alter ego, o id, sentimentos, sensações, e o infinito que não
existe em lugar algum; é o inexplicável autoexplicativo, o sopro
suave tão forte quanto um furacão, um aplauso ao nada ou uma
reverência ao absoluto; enfim, é tudo aquilo que julgamos
necessariamente desnecessário ou, em outras palavras, essencialmente
inútil.
Todos os prazeres da vida revestem-se
de uma definição artística, pois quanto mais desimportante for o
momento, a situação ou o instante maior será o prazer. Entre o
peso e a leveza, concordando com Heráclito, escolho a leveza, ela é
o reflexo em vida do matiz artístico que colore nossas imbricadas
relações; o peso, ao contrário, é a antítese da existência, uma
desvalorização do humano. Kundera, no emblemático “A
Insustentável Leveza do Ser”, fez a escolha errada, enganou seus
leitores e nos deixou sem respostas. Tudo bem, concordo, precisamos
de vínculos afetivos, mas eles não devem ser eternos, podem ter a
duração de um olhar, um passeio de carro, uma despedida. As
lembranças dos momentos efêmeros são geralmente mágicas, mas as
do cotidiano, assustadoras. Vejam bem meus amigos: olhos verdes convergem em poesia, já as obrigações do dia dia transformam-se em tese insípida de
monografia.
Sei que meus comentários não fazem
sentido, talvez eles sejam a exteriorização de uma mente
alcoolizada e estúpida, minha ânsia comunicativa parece interagir
com um mundo desabitado, vulgar, que se propõe a elogios apenas para
aplaudir o próprio caráter; é só pensar um pouco para o mundo
ficar chato; dane-se o pensamento, vamos bani-lo e viver de
contemplação circunstancial, regozijo gorduroso, júbilo
momentâneo, vamos extinguir o raciocínio, embaralhar nomes e dizer
com a mesma entonação frases díspares. “Prazer em conhecê-la,
eu te amo!”*. Quanta bobagem! Hoje tenho a nítida impressão que
meus textos são enigmas indecifráveis não pela dificuldade, mas
pela falta de leitores; se não fosse tímido acho que nem precisaria
escrever, viveria tranquilamente calado. Outrossim, o poeta tcheco Rainer
Maria Rilke, em suas célebres cartas à Fraz Xaver Koppus, chegou a
comentar que, para se auto intitular escritor ou poeta, o indivíduo,
indagado a decidir entre o suicídio e o silêncio, deve escolher a
primeira opção; todos aqueles que suportam a incomunicabilidade não
precisam embarcar no mundo das letras, pois, quando fazem isso, praticam fraude, escrevem relatos espúrios, sub-reptícios, mesquinhos e covardes. Para Rilke, sou uma
fraude; tudo que escrevo tem a duração de um sentimento momentâneo,
pode, portanto, como qualquer respiração, ser esquecido.
Tudo que é inútil de certa forma é
leve, despretensioso, esquecível. Decidi postar um top 10 de livros
que, levando a fundo estas três características, me engrandeceram,
paradoxalmente, como ser humano. A infância, o Estado ditatorial,
emoções latinas, o pacto demoníaco, as agruras sociais, a náusea
existencial, a história de um povo, a paixão proibida, o sarcasmo e
a doença moral são pedacinhos temáticos dos livros que compõem
esta lista; tão hermético quanto este comentário foi a seleção e
classificação das obras. Os dois primeiros lugares são formalmente
insuperáveis, o apreço com a linguagem fizeram de Thomas Mann e
Marcel Proust, autores com estilos tão diferentes, os dois maiores
artistas do século XX. Na lista ainda temos Dostoiévski, Toltói,
Machado de Assis, Sartre, Veríssimo, Faulkner, Orwell e Garcia
Márquez, só escritores geniais que demonstram o meu bom e orgulhoso
gosto. No mais é isso, aos que não leram nenhum dos livros
indicados, encarem esta postagem como um incentivo à leitura. Mãos
à obra e até breve.
01.
02.
03.
04.
05.
06.
07.
08.
09.
10.
FG
Obs:*ao escrever esta frase me lembrei da música do The Doors postada abaixo.
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