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Top 10 - Romances

No prefácio do romance “O Retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde definiu, com perspicácia e toques de ironia, as obras de arte; para o autor, um homem que cria algo inútil pode ser perdoado somente se admirar, com uma profundidade apaixonada, sua própria criação; o artista não constrói sua obra para solucionar problemas práticos, tampouco lucubra objetivos vindouros com os frutos do seu trabalho; ele pinta, esculpi, compõe, escreve, constrói, filma, canta, molda, desenha, fotografa por mera necessidade existencial ou, às vezes, fisiológica. A obra de arte é aquela que sem dizer nada encanta nossos olhos, ouvidos, braços, pernas, o estômago, o fígado, o cérebro, testículos, ossos, músculos, artérias, veias, nossos dedos, vermes, parasitas, o ego, o alter ego, o id, sentimentos, sensações, e o infinito que não existe em lugar algum; é o inexplicável autoexplicativo, o sopro suave tão forte quanto um furacão, um aplauso ao nada ou uma reverência ao absoluto; enfim, é tudo aquilo que julgamos necessariamente desnecessário ou, em outras palavras, essencialmente inútil.

Todos os prazeres da vida revestem-se de uma definição artística, pois quanto mais desimportante for o momento, a situação ou o instante maior será o prazer. Entre o peso e a leveza, concordando com Heráclito, escolho a leveza, ela é o reflexo em vida do matiz artístico que colore nossas imbricadas relações; o peso, ao contrário, é a antítese da existência, uma desvalorização do humano. Kundera, no emblemático “A Insustentável Leveza do Ser”, fez a escolha errada, enganou seus leitores e nos deixou sem respostas. Tudo bem, concordo, precisamos de vínculos afetivos, mas eles não devem ser eternos, podem ter a duração de um olhar, um passeio de carro, uma despedida. As lembranças dos momentos efêmeros são geralmente mágicas, mas as do cotidiano, assustadoras. Vejam bem meus amigos: olhos verdes convergem em poesia, já as obrigações do dia dia transformam-se em tese insípida de monografia.

Sei que meus comentários não fazem sentido, talvez eles sejam a exteriorização de uma mente alcoolizada e estúpida, minha ânsia comunicativa parece interagir com um mundo desabitado, vulgar, que se propõe a elogios apenas para aplaudir o próprio caráter; é só pensar um pouco para o mundo ficar chato; dane-se o pensamento, vamos bani-lo e viver de contemplação circunstancial, regozijo gorduroso, júbilo momentâneo, vamos extinguir o raciocínio, embaralhar nomes e dizer com a mesma entonação frases díspares. “Prazer em conhecê-la, eu te amo!”*. Quanta bobagem! Hoje tenho a nítida impressão que meus textos são enigmas indecifráveis não pela dificuldade, mas pela falta de leitores; se não fosse tímido acho que nem precisaria escrever, viveria tranquilamente calado. Outrossim, o poeta tcheco Rainer Maria Rilke, em suas célebres cartas à Fraz Xaver Koppus, chegou a comentar que, para se auto intitular escritor ou poeta, o indivíduo, indagado a decidir entre o suicídio e o silêncio, deve escolher a primeira opção; todos aqueles que suportam a incomunicabilidade não precisam embarcar no mundo das letras, pois, quando fazem isso, praticam fraude, escrevem relatos espúrios, sub-reptícios, mesquinhos e covardes. Para Rilke, sou uma fraude; tudo que escrevo tem a duração de um sentimento momentâneo, pode, portanto, como qualquer respiração, ser esquecido.


Tudo que é inútil de certa forma é leve, despretensioso, esquecível. Decidi postar um top 10 de livros que, levando a fundo estas três características, me engrandeceram, paradoxalmente, como ser humano. A infância, o Estado ditatorial, emoções latinas, o pacto demoníaco, as agruras sociais, a náusea existencial, a história de um povo, a paixão proibida, o sarcasmo e a doença moral são pedacinhos temáticos dos livros que compõem esta lista; tão hermético quanto este comentário foi a seleção e classificação das obras. Os dois primeiros lugares são formalmente insuperáveis, o apreço com a linguagem fizeram de Thomas Mann e Marcel Proust, autores com estilos tão diferentes, os dois maiores artistas do século XX. Na lista ainda temos Dostoiévski, Toltói, Machado de Assis, Sartre, Veríssimo, Faulkner, Orwell e Garcia Márquez, só escritores geniais que demonstram o meu bom e orgulhoso gosto. No mais é isso, aos que não leram nenhum dos livros indicados, encarem esta postagem como um incentivo à leitura. Mãos à obra e até breve.

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FG

Obs:*ao escrever esta frase me lembrei da música do The Doors postada abaixo.





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