Thérèse Raquin foi o primeiro romance publicado pelo naturalista francês Émile Zola no ano de 1867. Narra a estória da personagem título e seu drama afetivo envolvendo o marido, Camille, e o amante, Laurent. Zola tentou escrever uma pútrida trama de amor em que este nobre sentimento romântico fosse analisado com um olhar minucioso e científico. Não à toa pontua, no prefácio escrito em resposta aos críticos, o seguinte esclarecimento:
"Thérèse e Laurent são animais humanos, nada mais. Procurei acompanhar nestes animais o trabalho surdo das paixões, as violências do instinto, os desequilíbrios cerebrais ocorridos na sequência de uma crise nervosa. Os amores dos meus dois herois são a satisfação de uma necessidade; o crime que cometem é uma consequência do adultério, consequência que aceitam como os lobos aceitam o assassinato dos cordeiros; enfim, o que eu me vi obrigado a chamar de remorso consiste numa simples desordem orgânica, numa rebelião do sistema nervoso tenso a ponto de romper-se."
Como visto, Zola escreve, ou ao menos tenta escrever, as observações literárias da análise clínica do comportamento de dois indivíduos alijados de racionalidade e controlados pelas ânsias e pulsões do corpo. Para tanto constrói um enredo por deveras simples, sem grandes floreios em personagens, ambientes, cenários, e também sem se apegar a artifícios de linguagem que meramente desenham sub-tramas de sustentação. Em outras palavras, o escritor francês não perde tempo, vai direto ao ponto. Talvez por isso as personagens são escassas, além das três já mencionadas, a única relevante é a mãe de Camille; as situações acontecem quase sempre nos mesmos lugares, oitenta porcento do romance se desenvolve dentro da mansarda da família Raquin, no beco da Pont Neuf; e a trama cresce em direção a dois clímax previsíveis e bem localizados no livro - o primeiro no meio, o segundo ao final.
Sobre o enredo, nenhuma inventividade. Thérèse vive uma insípida relação conjugal com o marido Camille até conhecer Laurent e tornar-se sua amante. Os dois se entregam fisiologicamente à relação e são conduzidos pelos prazeres da carne a concretizar um insidioso plano. Matam Camille e esperam a oportunidade para oficializar a clandestina relação. No entanto, o plano que parecia ter logrado grande êxito dilapida a consciência dos dois infratores, e a nova vida conjugal transforma-se num inferno de pútridas memórias e abjetos devaneios. O final lembra uma ignóbil versão de Romeu e Julieta e o desenrolar do comentado remorso vivido pelas personagens sugere, com muito menos maestria, o inigualável Crime e Castigo de Dostoiévski.
Por fim, destaco, para os possíveis leitores, que trata-se de um bom livro; porém ouso constatar que a presença do romance na galeria dos grandes clássicos é mais pelo autor e pela época que foi escrito, pois apresenta alguns incipientes elementos daquilo que configurará o naturalismo em literatura, do que pelas qualidades atemporais que infelizmente a obra parece não ter.
Nota: 7,0
FG
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