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Mostrando postagens de agosto, 2018

Projeto. IX

Caro Beto, Há seis anos atrás, quando o governo foi destituído e os conservadores tomaram o poder, eu e os outros membros dos replicantes ficamos encurralados. Você deve lembrar da tarde de agosto que apareci em casa com o rosto sangrando. Mamãe ficou assustada. Depois que Miguel morreu ela não aguentaria a perda de outro filho. Naquele dia recolhi minhas anotações e fui embora; vocês nunca mais me viram. O sangue do meu rosto era do Quirino. Pela manhã nossa base foi cercada. Eu e Quirino conseguimos fugir, os outros foram presos. Na fuga alvejaram meu amigo com cinco tiros no rosto; por sorte escapei. Estava tão transtornado que quando cheguei em casa não dei explicações. Com a antiga caminhonete de papai deixei a cidade. Passei a noite na fazenda; queimei todos os papeis do grupo e segui sozinho para o sul; cruzei a fronteira e pedi abrigo. Mas as coisas mudaram rápido; o golpe foi se espalhando por todos os países, fiquei acossado. Naquela altura todas as cidades já estavam cer

Projeto. VIII

Acordado, ainda sobre o chão frio, Hernandes começou a ouvir o barulho das sirenes; alguns tiros eram disparados, gritos e os mais diversos tipos de ruídos contaminavam o ambiente. O setor 43 estava sobre ataque. Algo acontecia. Uma voz foi ouvida pelos auto-falantes. "Permaneçam em casa. Vigilantes em busca". No edifício Z-73 o tumulto era perceptível. Muitos pareciam abandonar o local. O certo seria fugir. Se fosse uma caça, ele era presa fácil. Não tinha um plano de fuga, sequer imaginou que aquilo aconteceria. Abriu a porta. Dezenas de corpos, todos recobertos do líquido preto, estavam caídos pelos corredores. A correria era intensa. Na entrada do prédio uma garotinha com olhar em súplica parecia perdida. Hernandes pegou a menina no colo e começou a caminhar pelas ruas repletas de transeuntes e vigilantes. Um deles o parou. Naquele momento suava frio. Acabara de chegar e em instante poderia ser preso. O vigilante escaneou seu rosto, fez o mesmo procedimento c

Projeto. VII

Hernandes ficou no prostíbulo rememorando o passado. Seis anos atrás viveu tormentos e violências que fizeram o sonho revolucionário adormecer. Agora poderia remendar os erros e construir tudo de novo. Estava diferente, preparado para se livrar de qualquer artimanha. Sempre soube que a grande transformação só viria com o sacrifício de muitos. Todas as pessoas ao redor, o barulho, o cheiro lastimável, animalesco retratavam os miasmas humanos. Aquilo que estava sobre os olhos não valia uma gota de suor. Salvaria o irmão, os outros pereceriam. Ele sabia que o mundo não era o mesmo, não resguardava qualquer semelhança com o passado. O amor pela humanidade foi substituído pela sobrevivência; e para resgatar algo que se perdeu, os fantasmas que sobreviviam tinham um destino certo, e nada poderia ser feito. Sua crença num mundo melhor estava mais viva do que nunca. A consciência se despertara e o auge da espécie seria construído por uma nova visão objetiva, por uma linguagem mais sof