Sempre sonhei em escrever. Mais do que uma frase, ou sentença. Queria escrever um parágrafo, uma ideia; talvez uma página, um capricho. Duas palavras, após um testemunho. Quem sabe um conto, uma novela, um livro. Sempre sonhei com papéis. Mais do que isso, com a tinta. Queria folhear algo meu; não aquilo que apenas eu manuseio. Queria também outras mãos perto das minhas, bisbilhotando palavras daquilo que sonhei. Quem sabe uma frase, um parágrafo, uma ideia. Se fosse um livro, de poucas páginas, mas um livro; quantas mãos seriam aquelas? Quantos pensamentos? Quantos gritos? E os sussurros? Sempre sonhei poesia. Mas poesia sem palavra. Poesia de silêncio. Poesia que se diz sem som, que se compreende sem voz alguma. Poesia que vem de dentro e não vai embora. Não qualquer uma, daquelas que nascem resplendorosas. Outro tipo de poesia. Um tipo de poesia que não se conhece. Um tipo de poesia não escrita. Um tipo de poesia densa, dura, impenetrável. Um tipo de poesia mui...