No prefácio do romance “O Retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde definiu, com perspicácia e toques de ironia, as obras de arte; para o autor, um homem que cria algo inútil pode ser perdoado somente se admirar, com uma profundidade apaixonada, sua própria criação; o artista não constrói sua obra para solucionar problemas práticos, tampouco lucubra objetivos vindouros com os frutos do seu trabalho; ele pinta, esculpi, compõe, escreve, constrói, filma, canta, molda, desenha, fotografa por mera necessidade existencial ou, às vezes, fisiológica. A obra de arte é aquela que sem dizer nada encanta nossos olhos, ouvidos, braços, pernas, o estômago, o fígado, o cérebro, testículos, ossos, músculos, artérias, veias, nossos dedos, vermes, parasitas, o ego, o alter ego, o id, sentimentos, sensações, e o infinito que não existe em lugar algum; é o inexplicável autoexplicativo, o sopro suave tão forte quanto um furacão, um aplauso ao nada ou uma reverência ao absoluto; enfim, é tudo aquilo que julgam...