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Mostrando postagens de outubro, 2017

Parágrafo - 1

Agora, depois de limpar os lenções e retirar cada mancha de sangue, me dedico à recomposição. Não do que foi feito, planejado, colhido, não daquilo que sinto - remorso, regojizo - tampouco do que os olhos, feridos, observam ou criam. (A palavra sem ornamento é caldo, sem pedaço, é mero rascunho, somente lixo, é linguagem podre, morta, ocre) Então como contar um testemunho? Como recriar o espetáculo do assassínio? Com imagens? Burburinhos? Com palavras e ornamentos? Delírios? Como dizer o que não sinto ou revelar o que nunca será feito? Linguagem? Palavra morta? Sensação não vivida? Medo? Medo! Contar o medo... recontar o medo, recriar o medo, banalizar o medo. Qual utilidade deste sentimento? Qual utilidade me faria em medo? Medo de quê? Da palavra? Da morte? Da palavra morta? Medo da linguagem, medo do vazio... Tudo bem, mais fácil assumir o que não fiz do que ser julgado louco. Quem acreditaria em mim? Meu pai? Não, ele é assaz moralista, cretino demais para enxergar por debaixo da